casacos e chapéus - cronicas do serviço público

Enquanto os interesses pessoais estiverem acima dos interesses institucionais a política pública ainda será privada.

Será tão difícil se despir dos desejos pessoais, dos lobbies para refletir e optar pelo coletivo?

Estou no serviço público há 20 anos. Como muitos sou servidor. Um servidor que serve ao interesse público. Sou pago e muito bem pago com dinheiro público. Acompanho ao longo dos anos as decisões que são tomadas. Da menor a maior. Entendo que são construídas em processos decisórios. Apreendi com a experiência a ver as deliberações não como ato decisório, mas como um processo a partir da sua origem. Consigo olhar a conjuntura envolvida e percebo quando os interesses privados são atendidos em detrimento do interesse público. Inclusive quando o são pela postergação das decisões.

Quando nos referimos as instituições, da maior a menor, da mais tradicional a mais moderna, não pode haver descriminação. O caso da seleção brasileira... é uma instituição nacional. Ela não pode ser gerida baseada nos interesses de um grupo que a domina, preside e controla a CBF. Isso para falar de futebol.

Transfira isso para o congresso nacional, as assembleias legislativas, estaduais e municipais, os gabinetes executivos do poder republicano, olha o tamanho da encrenca. São mecanismos de proteção e de defesa corporativos com propósito duvidoso, obscuro aos olhos do controle público. Barreiras invisíveis construídas pelo poder constituído que se protege. A imprensa quando bate no peito e se diz autônoma e isenta... Já foi pior, eu bem sei. Mas isso não é motivo para não continuarmos a exigir melhorias.

A instituição privada tem suas obrigações legais e as cumprem. Vejam o caso do vale transporte, das creches, dos adicionais de periculosidade. Por mais que muitas tentam ludibriar o fisco, descumprir não é a regra, é a exceção.

Aqui no público o que muito se vê é cafezinho e casaco na cadeira. No sul do Brasil a copeira se desmancha fazendo mate. E muita cafeína! Acho mesmo que as instâncias do serviço público devam se atualizar.

Veja a Emenda constitucional que determinou como pré-requisito para aposentadoria a idade mínima de 60 anos. Tudo bem, Foi uma decisão pensada coletivamente, posso até concordar, mas temos que adaptar as repartições para esse crescente número de servidores acima dos 50 anos.

Outro dia, alguém me perguntou de um colega. Onde ele se encontrava. Não sou chefe de ninguém, não cuido dos outros, já me custa muito cuidar do que faço, mas olhei para sua estação de trabalho e reparei que na sua cadeira estava o casaco.

Respondi gentilmente.

- Deve estar, pois deixou o casaco ai na cadeira!!!!!

Mas e no verão o que devo dizer? Não bastam cadeiras para casacos é preciso chapeleiro.