PELADINHA QUARENTONA

É possível que o título tenha remetido seus pensamentos a um outro tema, no entanto eu quero aqui registrar algo bem diverso do que possa parecer à primeira vista.

Há quarenta anos uns primos meus e amigos de infância, começaram, despretensiosamente, a jogar futebol de salão nas manhãs de domingo. Algum tempo depois um dos meus irmãos, o Luiz, passou a participar também desse grupo.

Inicialmente a brincadeira era realizada no Colégio Arnaldo no bairro de Santa Efigênia – BH – MG e posteriormente migrou para um clube de recreação, denominado Pinheiros, também no mesmo bairro de Santa Efigênia.

Quando eles começaram a brincadeira, não havia tantas opções de lazer e entretenimento como hoje. Não havia shoppings centers, computador, quanto mais telefone celular. O que de mais avançado havia era a televisão, que passou a ser em cores no ano de 1972, embora de forma bem incipiente.

O final de semana dos jovens entre 14 e 18 anos consistia em ir à missa, ao cinema, onde preponderavam os filmes de faroeste e de caratê, passear no parque municipal ou no zoológico, brincadeiras de rua tais como: futebol, tico-tico fuzilado, bente altas, bolinhas de gude, finca, bicicleta, patinete, carrinho de rolimã e outras opções lúdicas.

O que começou por diversão jamais poderia passar pela cabeça de algum deles, tal longevidade. Provavelmente não lhes ocorria vislumbrarem-se pais e avôs e continuarem mantendo tão salutar atividade, nutrindo uma amizade duradoura.

Nem mesmo o progresso e, consequentemente a grande variedade de opções de lazer e entretenimento postos à disposição como: shoppings centers, casas de shows, videogames, computadores, telefones celulares e tantas outras opções e modismos, foram capazes de demovê-los do firme propósito de marcarem presença no primeiro compromisso dominical. Nem mesmo as constantes ressacas, dos excessos cometidos nos embalos dos sábados à noite.

A eles foram-se juntando namoradas, as quais se tornaram esposas, como, por exemplo, a minha irmã Filomena, que iniciou namoro o Hélcio, passando a participar dos eventos. Casaram-se, tiveram duas filhas: Roberta e Rafaela, aumentando o contingente familiar da turma, que não para de crescer em outros troncos familiares.

Os filhos dos diversos casais cresceram acompanhando os seus pais e passaram a jogar bola juntamente com eles. A peladinha então passou a ser integrada por duas gerações. Agora a meninada da terceira geração também já faz parte dessa turma e com seus tios, pais e avós, perfazem três gerações correndo, cobrando, xingando, vibrando, compartilhando das mesmas emoções.

Todo ano, no mês de dezembro, eles comemoram com muita festa mais um ano de existência e este ano não foi diferente. Houve uma missa em Ação de Graças e neste 14 de dezembro de 2013, foi realizado um churrasco em comemoração aos 40 anos da “Turma da Peladinha”, com variadas e marcantes músicas dos tempos idos, em num ambiente de confraternização, descontração e animação.

A se considerar todos os integrantes, cada qual com os seus familiares, somam mais de uma centena de pessoas, mas por questões de agenda, apenas uns 70 (setenta) participantes marcaram presença efetivamente.

Atualmente com tanta superficialidade e volatilidade das relações, com fortes influências de um mundo sem fronteiras, onde cada qual vai para o seu canto e esse canto pode ser no outro canto do mundo, é difícil se conceber que algum novo grupo seja capaz de se unir por tanto tempo por alguma causa.

Tenho a esperança de que essa amizade continue por várias décadas e que as dezenas de filhos, genros e os demais componentes das famílias, mantenham essa tradição e relacionamento de sólidos vínculos por mais 40 anos.

Parabéns a todos vocês que não se deixaram vencer pelas artificialidades da sociedade atual, continuando a manter firmes, os laços de uma amizade duradoura.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 23/10/2014
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