Nada de novo no front

Nada de novo no front, era o titulo do livro que jazia no chão. Ela tentou acertar a minha cabeça, mas sempre foi meio estabanada. Depois de duas horas e meia de acusações, xingamentos e bufadas, a porta bate seca. Ouço seus passos furiosos descendo as escadas. Tac, tac, tac. A mesma onomatopeia do tapa que não levei por muito pouco. Sem ela o apartamento era silencioso, não se escutava nada além de pedras de gelo caindo dentro de um copo de vidro. Na garrafa podia ser lido Blenders, poderia ser lido se a vista não estivesse embaçada com as lagrima que segurei ao máximo para não deixar cair. Já o uísque caía em abundancia. Toda a embriaguez que trinta reais pode lhe dar.

Da janela do apartamento via - por entre goles - a cidade de capricórnio. Ela seguia indiferente. A mesma indiferença que escutei inúmeras vezes que existia em meus olhos. Brindei com capricórnio. A minha musa de concreto que me entendia e não dava à mínima. Uma vagabunda de coração frio, para um vagabundo de coração frio. A cada gole a certeza ébria de que estávamos presos um ao outro, e que aquela conversa se estenderia por toda a eternidade. E se estendeu por toda a eternidade daquela garrafa. O tecido do tempo-espaço é cheio de manchas de malte e vinho.

Por um segundo me peguei pensando nela. Será que ela teria chegado em casa? Nunca saberia a resposta, mas aquilo já não importava tanto. Existem muitas pessoas e muitas casas nesse mundo insano, por vezes eu mesmo acho que não cheguei à minha.

Agora ela era problema dela mesma. Espero que tenha melhor sorte do que comigo. Sei que não sou bom em lidar com os outros. Poderia dizer que seria, mas fácil se as pessoas viessem com um manual, mas não, eu não leio manuais. Continuaria tentando solucionar as coisas do meu jeito. Continuaria quebrando as coisas da minha maneira. Sempre tive mãos toscas e pesadas. Não nasci para concertar, apenas pequenos reparos, gambiarras apenas o suficiente para conseguir ir levando nas coxas.

Sentando no sofá, estendi a mão para pegar o livro no chão do apartamento. Nada de novo no front. Um livro que já havia lido tal qual você que está lendo as minhas bobagens de bêbado pela enésima vez.

Lendo no sofá me transformo no concreto preto e cinza de capricórnio.

Azathoth
Enviado por Azathoth em 25/10/2014
Código do texto: T5012031
Classificação de conteúdo: seguro