O POVO BRASILEIRO NÃO É BURRO

O POVO BRASILEIRO NÃO É BURRO como andam algumas pessoas – inclusive amigos meus – dizendo. É um povo sofrido, com carências de toda sorte. Em junho de 2013 este povo foi às ruas, puxado pela nova classe média que nasceu durante os doze anos de governo do PT. O coro “Fora Dilma!”, não foi uníssono: muito longe disso, as reivindicações eram bem variadas e eu, que inclusive participei do movimento indo também à rua, pouco ouvi pessoas dizerem “Fora Dilma!”. Aliás, a maioria dos movimentos sociais que encabeçavam, anonimamente, boa parte das passeatas Brasil afora, votaram no número treze ontem, dia 26 de outubro. Isso por considerarem que a opção pelo PSBD representaria um retrocesso, e a palavra Mudança não podia ser associada ao partido da grande direita, por mais que ele tivesse pleiteado isso para o seu lado. O Brasil não é burro. E por mais desinformado que seja – e a mídia realmente contribui muito para isso –, ele, o povo, sabe que o Brasil melhorou nos últimos doze anos, sobretudo no tocante às condições de vida da população mais pobre, que, a bem da verdade, ainda sofre muito, obviamente. Eu e vários amigos de profissão; assim como cientistas políticos e intelectuais diversos optaram, em sua maioria, por Dilma. Não acho que eu seja exatamente um burro. Tenho cá minhas posições (algumas firmes, outras menos); tenho minha orientação marxista – ainda que moderada e relativista –, mas não sou o único: 90% da produção historiográfica no Brasil é marxista; hoje o livro O Capital No Século XXI, do marxista francês Thomas Piketty, assim como o Manifesto Comunista, do próprio Karl Marx, estão entre os mais vendidos na Europa, por exemplo, onde as esquerdas se reavivam e se reciclam, apesar da onda reacionária. Portanto, eu adoraria que se formasse um debate político sério neste país. E que, acalmados os ânimos, nós possamos deixar de lado as palavras ofensivas que de ambos os lados deram o tom desta campanha e trabalhemos em 2015 por coisas que interessam a todas as pessoas de bem: começando pela moralização da política. E isto, amigos, só será possível se iniciarmos um grande debate nacional em volta de uma grande reforma política. Quem concordar com isso estará sendo coerente com o desejo de mudança e com a enorme utilização desta palavra nas campanhas. Quem quer mudança quer reforma política. Eu desconfiarei de qualquer um que pediu mudanças e discordar da necessidade de tal reforma. O povo brasileiro não é burro. Tenha parte dele votado em Aécio e outra em Dilma. Os estados com predomínio de votos no PSDB sabiam o que queriam com essa manifestação de apoio tucano, e os estados que ficaram com Dilma, como os do Nordeste, Rio e Minas, idem. Repito: o povo Brasileiro não é burro. E tenho certeza que vai aprender a conversar: algo que ainda falta. Mas a gente chega lá. Vamos estudar e aceitar a complexidade das coisas.