O ANESTESISTA E O ENTERRO DO COVEIRO.
 
Em elucubrações várias pensava eu, a injustiça que todos fazemos quando,de repente, necessitamos de atendimento médico e até de uma cirurgia...seja ela qual for.
Em dando tudo certo, soe acontecer o sorriso com o cirurgião-médico e, por vezes flores,até alguns mimos e presentes. Alegrias nada contidas...tudo-dando certo- com absoluta razão.Agradecimentos e cortesias várias.
Entretanto,esquecemos sempre, daquele que invariável não aparece ou quase nunca está presente nessas ocasiões,por vezes festivas e gratas:o médico anestesista. Dependemos,muito de nossas vidas aos anestesistas,que sempre acompanham: pressão, batimento cardíaco,glicemia,ritmo respiratório, além de outros procedimentos fundamentais à vida. Um anjo da guarda inominado e sem glória ou aplausos...
No entanto,jamais é lembrado, reverenciado e invariavelmente é esquecido pelo paciente e ou família, em quase todos os hospitais e circunstâncias.Isso,parece ser a regra. A exceção é quase nenhuma.
É a sina da profissão...ser anestesista. Aquele que tem grande ou melhor enorme responsabilidade no ato cirúrgico e sequer é lembrado depois...Até parece mesmo que não existiu no ato cirúrgico. Seu nome jamais será lembrado...
Eles,os anestesistas já são vacinados com esse tipo de comportamento humano,(indiferença),dentro e fora dos hospitais. E, até acho que não sofrem problemas existenciais ou profissionais por isso,ou seja: o esquecimento,o descuido ou até o desprezo dos humanos e profanos.
Quando por dever de oficio,para apurar a morte de um jovem num ambulatório de fábrica,há tempos, aquele se apresentou ao enfermeiro,sozinho, com dor de garganta...Recebeu uma injeção (talvez antibiótico) – sem assistência de nenhum médico – para aliviar o problema e, sofreu um grave choque anafilático...
Atendido na Santa Casa em estado desesperador,acabou morrendo. E, aí tive que apurar o fato- como disse,por dever de ofício – e, eis que conheci um competente anestesista...
Como não era e não sou versado em Medicina, apurei tudo o que me explanou com todos os pormenores,aquilo que se chama, o “choque anafilático”.  O anestesista não foi quem atendeu o jovem no infausto episódio... O caso nem era um procedimento cirúrgico. Disse-me que qualquer um está sujeito a sofrer um “choque anafilático”,por via oral ou injeção,como ocorreu com o jovem.
Depois de horas de explanação e perguntas feitas,com o competente médico  anestesista,para resolver e apurar a  verdadeira  “causa mortis”. O infeliz  só tinha uma "dor de garganta" e encontrou a morte,trabalhando.Fui embora para continuar o inquérito policial instaurado.
A partir desse encontro na Santa Casa,sala da diretoria, passei a admirar o trabalho do médico anestesista e o quanto ele é importante na Medicina,em geral.Em particular, num procedimento qualquer,dentro ou fora da cirurgia.
Até hoje nada mudou em relação aos médicos anestesistas e,usando outra figura de linguagem, desde que o mundo é mundo acho que nada vai mudar.
Da mesma forma, pergunta-se  com alguma ironia,desdém de quem ainda persiste em se manter em sociedade,vivendo:
*Quem é vizinho de um coveiro?
*Quais são seus familiares? Você os conhece?
*Quem lhe dá sempre bom dia?
*Você já foi ao enterro de algum coveiro?
*Quem o enterra?  
*Quem coloca flores no túmulo do  coveiro? E,por ele também quem ora?
****Assim,pois,dessa forma caminha a humanidade.Impiedosamente. Tão indiferente, como biruta na cabeceira da pista de um aeroporto,abandonado... Vira,gira--- indiferente--- só conforme o vento vindo de onde vier.Ninguém lhe dá atenção...Tudo, a rigor, parece ao redor, indiferente,muito indiferente...