O PADRE

O PADRE

Numa paroquia de uma capital onde tinha uma igreja simples, porem, bem arruda e muito asseada. Com bancos humildes e simples, porém conservados e envernizados. Nos fundos construíram dois apartamentos, como a igreja também de uma simplicidade franciscana, era onde moravam os padres da paroquia. Sua localização ficava numa favela onde residiam mais de dez mil pessoas da classe media pobre, juntamente com outros moradores ainda mais pobres. Mas todos trabalhavam em vários empregos fora da favela. Os poucos homens e algumas mulheres que não tinham empregos fixos passavam o dia em casa nos botecos e fazendo algo ilícito.

O padre que tinha sido transferido para aquela comunidade era uma pessoa de cor também como tudo que existia ali, cultivava a simplicidade pois vinha de família com parcos recursos e moradores da zona rural de uma cidadezinha do interior. Ele teve o privilegio de fazer o final dos estudos de seu sacerdócio em Roma. Completando-o com doutorado em filosofia e sociologia. Era muito inteligente e observador do mundo ao seu redor. Era seu primeiro contato com os fieis após sua consagração. Era o verdadeiro homem de Deus, culto, inteligente, honesto. Falava três línguas diferentes fora o português, inglês, italiano, espanhol. Em todo o período de seus estudos tira as melhores notas e seus trabalhos eram elogiados por seus superiores, pois tinha muita facilidade em transmitir ao papel seus pensamentos.

Como ia assumir seu posto somente dois dias depois, resolveu dar uma longa caminhada pelas ruelas da favela. Como usava da mesma simplicidade quando morava em Roma, vestiu uma calça de brim antiga uma camisa xadrez e calçou uma sandália franciscana que havia ganho de um amigo de seminário ( Queria se apresentar com simplicidade ) achou melhor sair de forma anônima sem os caracteres de padre. Tinha o cabelo, um pouco crescido e encaracolados e pela dificuldade de assenta-los deu uma passada de não sobre eles e saiu na caminhada antes avisou a cozinheira e ao outro padre que já fora apresentado, que iria sair para conhecer melhor a vida e as coisas da comunidade.

Passou por uma pracinha onde tinha um ponto de taxi com dois carros disponíveis, cumprimentou os motoristas e respondeu-lhes que tinha sido transferido para a paroquia e estava conhecendo a localidade. Despediu-se e continuou a caminhada.

Caminhou por varias ruas e ruelas sempre atencioso e cumprimentando os poucos que encontrava pelo caminho. Resolveu ir subindo o morro e ir à parte mais alta onde queria ter uma vista mais abrangente de onde se encontrava. Chegando ao cume viu alguns homens fumando algo que parecia cigarro, porem mais fino e cor escura. Como tinha muita atenção a tudo que se passava a sua volta, foi que atentou para este detalhe.

Quando um deles de pé gritou-lhe: Alto lá macaco, onde você pensa que vai?

- Estou fazendo um reconhecimento do lugar!

- Você tá parecendo gente do Tonhão!

- Não sou não, nem conheço ele!

- Engraçadinho, então tá querendo chumbo quente, então lá vai.

A rajada de metralhadora tirou terra do chão e esburacou a casa que estava ao seu lado. O susto foi tanto que o padre deu um pulo para o lado e começou a correr em disparada.

Os bandidos dando risadas, cada um com a suas armas deram uma saraivada de balas, mas para assustar e com a intenção de que fosse levar a noticia para o Tonhão.

Quando estavam a uns cem metros do ponto de taxi, ouviu as sirenes da policia subindo a favela a toda velocidade. Vendo o padre correndo feito louco, cercaram-no, jogaram no chão e o algemaram, dizendo-lhe que ficasse quieto sem dizer palavras. Depois jogaram ele no camburão para levarem preso.

Um dos taxistas que estava escondido atrás de um poste e presenciou o acontecido e saiu correndo para igreja para avisar que o padre novo tinha sido preso.

A cozinheira gritou o outro padre que mora lá a tempos, e este veio ver o que estava acontecendo. Tomando conhecimento do acontecido, pediu ao taxista que pegasse seu carro e o levasse na delegacia. Imediatamente os dois saíram correndo em direção ao cárcere que ficava a uns cinco quilômetros dali. O transito não estava ajudando, e cada vez demorava mais em atravessar os sinais e as paradas dos outros carros.

Os policiais chegaram à delegacia e já começaram o interrogatório.

- Onde está a droga, miserável, já entregou para eles?

- Eu não sei de droga. Eu sou o padre João Bosco da Silva, lá da paroquia.

- Que isso mané, ainda esta querendo se passar por palhaço, fazendo de bobo?

- Mostre com os documentos, já que é padre. O coitado mesmo com as mãos amarradas procurou nos bolsos da calça, e não encontrou nada.

_ Acho que deixei lá, pois não tinha intenção de ir muito longe.

- Quem vai acreditar nesta desculpa esfarrapada? Luizão leva o padre lá no confessionário e fá-lo confessar quantos quilos trouxe desta vez!

- Vem comigo seu vigário vamos confessar, para ver se poderei perdoar seus pecados.

-Este tal de sargento Luizão era conhecido pelos traficantes como coisa ruim, capeta etc.

Ao entrarem na sala já deu um tapa na orelha do pobre padre que caiu de joelho no chão.

Antes que ele falasse alguma coisa deu um soco de baixo para cima em seu nariz que esguichou sangue para todo lado. E o coitado sentindo uma dor nunca antes sentida começou a chorar e rezar baixinho achando que iria chegar sua hora.

Nesta hora entra na delegacia o outro padre e o taxista.

_ O que aconteceu vocês prendeu o padre João Bosco, o que ele fez. Ele acabou de chegar à cidade.

O soldado olhou para o sargento com olhar com suspeita da burrice que tinham acabado de cometer.

- Mas ele não esta aqui, disse o sargento. Foi quando o outro sargento na outra sala gritou:

- E ai Padre desgraçado, você não vai confessar eu não poderei perdoar seus pecados!

- O outro padre nem pediu licença e entrou correndo na outra sala, e encontrou Padre João Bosco de joelho com o rosto cheio de sangue.

- Mas o que é isso, o que esta acontecendo aqui? O que vocês fizeram com o Padre João Bosco, o que ele fez para estar deste jeito?

- Diz o Sargento: Ele disse que era padre, mas não apresentou nenhum documento, como vou adivinhar que era padre?

- Era só o senhor ligar para a Igreja. Que veríamos aqui trazer os documentos dele.

- Por causa do senhor Padre eu vou liberar ele.

- Então o senhor Sargento faça um boletim de ocorrência que tenho que levar ao Bispo da Paroquia.

- Aí o senhor esta começando a complicar as coisas. O assunto aqui é entre policia e bandido.

- Como bandido! Este é um Padre e pelo que sei não cometeu nenhum delito.

- Até agora mesmo ele era considerado um bandido. O senhor chegou e fez um milagre, transformou em Padre.

- Ele sempre foi Padre. Vocês é que queriam transforma-lo em bandido, sem nenhum motivo.

- Eu vou lá falar com o sargento, vamos ver o que se pode fazer. Vê se limpa o rosto dele para não sair daqui da sala, deste jeito. E saiu da sala.

Os dois padres ajoelhados choravam copiosamente com a dor de um e outro, limpando o sangue que ainda saia pelo seu nariz.

Nisso entra novamente o sargento.

- Nos trocamos ideias e chegamos à conclusão em liberar vocês agora, mas o boletim de ocorrência, negativo. Sem chance.

- Mas sem o boletim não podemos ir. Temos que prestar contas ao Bispo de nossos atos.

- Ou vocês vão embora numa boa. Ou vou prender os dois por desacato a autoridades.

- Diz o Padre João Batista, vamos fazer como Jesus ensinou: “Pai perdoai eles não sabem o que fazem” .

Assim os dois saíram da delegacia como se fossem bandidos e assaltantes sem ter culpa alguma.

- Já no taxi o Padre João Batista, comentou. Imagina Padre quanta vez por dia acontece esta barbaridade com quantas pessoas honestas e trabalhadoras, enquanto os bandidos estão lá nos altos dos morros com suas metralhadoras.

- É padre João, acho que esta passando da hora de Jesus voltar na terra para sanear tanta coisa errada que os seres humanos estão praticando.

- É Verdade.

Assim termina mais uma historia triste, sem testemunhas. Sem defesa.

sSantAna ( Drakcon ) 04/11/2014

Phósforus
Enviado por Phósforus em 04/11/2014
Código do texto: T5023370
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