A curva do rio e meu coração.
Gostaria de enterrar meu coração na curva do rio.
Eu mesma queria retirar este pedaço inútil, cheio de mágoas, podre de ódio, retirar todo e qualquer tipo de sentimento de mim.
Não quero mais sentir nada, nem amor, nem alegria.
Nem fome nem saciedade, nada mesmo.
Quero enterrar este órgão que me enterra a todo instante.
Que ele fique por lá, em lugar remoto onde não mais faça mal a ninguém, nem a mim mesma.
Quero enterrar meu coração para que seja útil à terra, que a fertilize. Só assim terá alguma validade.
Dizem que o coração bate, mas o meu apanha, cada dia um pouco, e foi ficando assim amargo, sem amor.
Me enterre inteira se preciso for.
Mas não deixe ele assim com a liberdade de amar quem quiser, e depois sofrer e me maltratar.
Não adianta a educação formal, o tal pedaço de mim insiste em desobedecer a lógica.
Chega, cansei de estar todo tempo envolvida com pessoas que não nutrem por mim qualquer tipo de emoção.
Chega de sentimentos.
Enterre logo, agora.
Só te peço uma última emoção – que seja na curva do rio.