"A CRÔNICA DO BURACO" OU "O BURACO CRÔNICO"

Os noticiários diários dos meios de comunicação nos surpreendem a cada instante com chamadas contendo alguma notícia urgente em algum lugar, longe ou perto de nós. Longe, como o enforcamento do ex-ditador Saddam, como prova da eficácia e cumprimento da justiça. Mesmo deixando de esclarecer as tais justas causas para o tamanho ato cruel e funesto, não em relação à culpa de Saddam, mas daquelas que dizem respeito a outras repúblicas que agora aparecem na história mais uma vez como a “boa democracia”, ou como os “grandes heróis caçadores de bandidos”, daqueles ora vistos nos filmes de bang-bang. “Procura-se Bin Laden”. Este não teve jeito; não se encontrou. Mas sempre há uma oportunidade de mostrar quem se é. Agora sim. “Procura-se Saddam”. Encontrado! Eis a chance, não se pode perdê-la. Eis a chance de mostrar para o mundo mais um ato heróico e triunfante. Saddam estava no “buraco”. No buraco negro e fundo, no abrigo sombrio que acalentou a sobrevida do ditador e que não o poupou das ferozes garras americanas. Jaz Saddam, enforcado! Mais uma estrelinha de condecoração para os defensores da humanidade, dos iraquianos, dos xiitas, de alguém, com certeza. Agora falemos dos fatos de perto. Desses que acontecem por aqui, pelos menos eles são menos desastrosos. Ora os daqui são os comuns, sem pouca variação, a não ser dimensional, como o grande “buraco engolidor de micro-ônibus, caminhões e pessoas” lá do metrô. Nossa! parece filme de terror americano. Mas não é não. Este é bem nacional, é nosso. Olha o buraco aí de novo! E veio com efeito arrasador; e ninguém duvide, realmente foi. Mas o caso metrô com certeza será solucionado. Afinal, o alarmante estrago pode trazer danos ainda maiores se não resolvido rapidamente, pois a imprensa não poupará os responsáveis, e eles, com certeza, não cessarão de tapar o imenso buraco, antes que ele atinja irremediavelmente suas reputações.