Perdeu a Guerra

Ela acordou-se meio para baixo naquela manhã nublada. O tempo parecia que estava andando para trás. A vida estava ficando para trás. Foi-se o tempo em que o sol brilhava para ela. Estava, cá dentro dela, tudo tão nublado e frio quanto lá fora. Ela chorava para dentro de si mesma; às vezes bebia, se feria, se machucava por fora para tentar se curar por dentro. Os dias eram sempre iguais, sempre o mesmo tédio, sempre aquela coisa insuportável que sempre a deixava se queixando. Foi dormir como se fosse a última vez que faria isso. Apareceu em Londres, tomando chá com a rainha, quase entediada, até que mentalizou o amor da sua vida e ele apareceu-lhe de terno e gravata pronto para dizer sim no altar. Mas não, ela era muito nova... não queria isso agora... Que tal uma viagem com as amigas? E, de repente, lá estava ela, com suas amigas passeando pelas ruas de Califórnia, se preparando para a noitada que iriam enfrentar. Mais uma noitada? Uma noite fútil? Que gera dor de cabeça, ressaca e mais desilusões? Melhor outra coisa, quem sabe um campo... E surgiu um hotel fazenda na sua frente. Com garçons, cavalos e vento tocando em seu rosto. Mas ainda não estava suficiente, faltava-lhe aventura. De repente viu-se no campo de guerra, quis sair dali e não conseguiu. Acabou reconhecendo aquela guerra; era a que ela travara diariamente consigo mesma. Desistiu de resistir. Não acordou no dia seguinte, nem em nenhum outro dia. Perdeu a guerra para si mesma. E ela realmente dormiu pela última vez.

Aninha Torres
Enviado por Aninha Torres em 21/11/2014
Código do texto: T5043978
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