“Eu perdi meu pai antes de nascer, perdi a minha mãe aos dezessete anos, perdi meu vó e minha avó, isso é porquê Deus quis? Alguém me prejudica é  porquê Deus quis? Eu não estudo o suficiente, e não faço uma boa prova é porquê Deus quis?”
 
 
 
 
 
 

     Sou de formação católica, tenho trinta anos e a minha família que me adotou também é muito católica e me ensinou e me ensina que Deus é amor e verdade, então eu me lembro com muita com muita alegria, mais ou menos com sete anos, meu pai e eu, na missa, eu cantava, rezava, era tão bom estar ali, com meu pai, diante de uma experiência maravilhosa de amor e gratidão.
     Quando eu cheguei aos onze anos tive um embate com minha religião, eu não entendia e não entendo, como que por amor Deus mandou o seu filho para que nós o matássemos e isso foi por “amor”! Então eu brigava com esta tese de que por amor eu sou capaz de altos sacrifícios, a religião que me formara, também me deixou aos onze anos profundamente rebelde, eu não podia compreender que amor e dor e morte no mesmo deus!
     Então fiquei até aproximadamente dezenove anos afastado e digamos meio “ateu” por que eu por ignorância ou raiva ou incompreensão não queria nem tentar assimilar está “tese” a cima reverenciada. Mas um dia, e isso foi recente ainda com trinta anos eu em meio a lágrimas e uma experiência transcendental, e maravilhosamente dolorosa, eu me perguntei muito seriamente: - “O meu ateísmo me torna uma pessoa melhor?” E eu disse para mim mesmo em  uma sonora e segura resposta “não” e partir daí, eu escolhi novamente acreditar novamente em Deus.
     Eu me recuso sob pena até de suicídio caso isso seja levado ao extremo, um Deus que me puna, que exija de mim algo que ainda não possuo, um tipo de pureza ou de virtude que ainda não tenho. Ainda sou católico? Sim sou, porém não um católico passivo ou repetidor de um dogma morto.      Por exemplo, a frase mais estéril do que aquela que muitos de nós, repetem sem reflexão alguma, diante de uma tragédia ou injustiça:- “É por que Deus quis.” Como assim? Eu perdi meu pai antes de nascer, perdi a minha mãe aos dezessete, perdi meu vó e minha vó, isso é porque Deus quis? Alguém me prejudica é Deus quis? Eu não estudo o suficiente, e não faço uma boa prova, é porque Deus quis?
     Não posso crer nesse Deus, sob pena de perder a minha própria vida, um Deus que me faz crer que tudo que acontece de ruim sobretudo, pois somos muito “espertinhos” só em geral direcionamos o mal que nos atinge a Deus, com frase tão estranhas, como “esta é a vontade de deus” Vontade? Deus tem vontade de nos ver sofrer? Acontece um acidente todos morrem, sobretudo a mãe grávida de seis meses e adolescentes, este acidente é por que Deus quis? E manutenção do carro? E imprudência nossa? E o celular que atendo enquanto falo ainda com minha esposa? E os pneus carecas no asfalto esburacado? Onde eu estou quando Deus quis que eu morresse antes de nascer, ou onde eu estou quando a vontade de Deus é a única que existe?
     Gandhi, uns dos maiores pacifistas do século XX, dizia que devemos ter cuidado com as nossas crenças porque através delas que seremos a mudança que desejamos ver no mundo. Gandhi apelidado pelo seu povo de “mahatma” isto é grande alma, nasceu dia 02 de outubro de 1869 na Índia em trinta de janeiro de 1948 e foi uns dos maiores pacificadores e líder espiritual do século XX. A ética da não-violência de Gandhi alastrou por todo mundo, inspirando poetas, escritores, políticos e líderes religiosos, tais como Martin Luther King Jr, Nelson Mandela, entre outros expoentes.
     Meu ateísmo que chamo de “fuga espiritual” foi uma tentativa honesta de tentar não engolir tudo que eu foi dado da vida, da religião, e dos outros no entanto, minha grande lição é que temos uma necessidade que transcende toda a nossa formação religiosa, escolar, profissional, e que em algum momento da nossa vida colocamos em xeque, e verificamos no fundo de nosso âmago até que ponto é uma necessidade ou um simples apego. Eu descobrir que eu precisava de uma e preciso dessa crença viva dentro de mim, e após isso, colocar uma nova abordagem juntamente com enriquecimento dessa maravilhosa experiência que tive.
André Mendes
Enviado por André Mendes em 22/11/2014
Reeditado em 22/11/2014
Código do texto: T5044957
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