Reflexões no velório do Nico
Já viram um cara atender o celular enquanto se caminha para o cemitério com um morto? Eu já.
 Já viram um papa-defuntos atender um telefonema na Capela Mortuária para dizer que agora não posso que estou num serviço? Eu já.
 Já viram  funerais têm mais gente fora da Igreja do que dentro? Eu já.
 Já ouviram as orações de alguns que acompanham o morto fora da Igreja e no caminho do cemitério falam coisas tipo:  o tempo está bom, o Palmeiras jogou mal, a política está uma m....? Eu já.
 Já viram uma pessoa que em vida nunca recebeu flores da família, filhos e marido, e que depois de morta lhe enchem o caixão de flores? Eu já.
 Já viram parentes que estavam zangados, de costas voltadas, sem palavra que fosse, nem bom dia, e que na hora choram sobre o corpo que nem madalenas arrependidas? Eu já.
 Já viram gente a maldizer a vida porque o padre não reza no acompanhamento fúnebre, mas não esboçam sinal de oração, sequer se benzem? Eu já.
 Já viram pessoas, depois de seguir o carrinho funerário, e mal entradas no cemitério, debandam para junto das campas dos seus, esquecendo o morto a ser sepultado, esquecendo o resto das exéquias? Eu já.
 Já viram o início de um sururú no meio de um acompanhamento porque se encontraram aqueles que não se podiam encontrar e quase saem na porrada por se encontrarem? Infelizmente, eu já.
 Já viram alguém desbaratar com a família do defunto na hora de ir para debaixo da terra porque, afinal,a prefeitura se enganou no terreno da cova?  Eu já.
 Já viram um indivíduo na velório acender do cigarro para fumar? Eu não vi, mas me contou quem viu.
 E quantas coisas não vimos nós por aí fora em funerais? E quantas não iremos ver mais?
Enfim, consola-me a constatação que os que morrem já não vão ver mais.

P.S. Não que eu seja implicante ou assíduo em velórios...