Luzes na praça

A praça de minha cidade está linda! Tem presépio, anjos, ovelhas, árvore de luzes, e muitas luzes nas árvores também. Dizem que isso se deve ao Natal. Contudo, não é nada disso. Ou, não é dessa “beleza” que estou falando.

Importo-me com o Reino de Deus todos os dias do ano; nas minhas fraquezas e erros tento servir ao Senhor Jesus; e não gasto vernizes hipócritas com certo “Menino Jesus” de plástico, cercado de indiferença, desprezo; com o devido respeito aos que gostam, dou uma banana para o fantoche mercantil do Noel e seus veados voadores.

Mais, acho as comilanças e bebedeiras dessa época, bem como o foguetório sem sentido uma coisa absolutamente deprimente. Não me convidem pra nada disso.

Mas, por que nossa praça está bela então? Bem, além da beleza natural de suas plantas e artifícios humanos, alguém teve a singela ideia de pintar seus bancos de verde, e escrever em cada um, uma frase filosófica, poética, com o devido crédito. Achei genial.

Quando estiver “chutando lata” digo, sem o quê fazer, posso me assentar com Clarice Lispector, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Victor Hugo, Voltaire... Essas “pichações” do bem são mui expressivas, inspiradoras, e em tal local, assumem grandeza ainda maior.

Bem sei que muitas bundas siliconadas se assentarão sobre, sem ler, meditar, sem nenhuma reverência; estarão impressionadas com as luzes “made in China”. Mas, as luzes que me atraem estão dispostas em forma de letras sobre o verde.

Feliz de quem teve tal ideia tão na contramão de uma geração que vê, aparenta, e quase não lê; tampouco, pensa.

Temos a futilidade e a profundidade no mesmo espaço. Não me importo que a primeira desfrute a preferência da maioria. Antes, alegro-me que minha preferência também esteja contemplada.

Nesse deserto de sensibilidade, sempre vem muito bem um oásis onde se pode amarrar a rede do ócio e descobrir em frutos antigos o sabor de ainda se ter uma alma.

Se as academias de malhação estão cheias de gente preocupada com músculos, quem sabe, essa “aeróbica” não deixe nossas almas mais “saradas” queimando um pouco às calorias da coisificação.