Escravidão virtual

Hoje entrei na sala de aula, luz apagada, pensei até que meus alunos haviam me dado o bolo (até que não seria nada mau, pois o cansaço era visível). Quão grande foi minha surpresa: estavam todos na sala, uns sentados no chão, outros sobre as carteiras, alguns falavam baixinho. Teatro, pensei. Não era. Estavam todos com seus aparelhos de celular ligados, nem responderam ao meu boa tarde, meninos! Pus meu material sobre a mesa, fiquei uns instantes a olhar aquela cena, acendi a luz. Aí é que perceberam que eu havia chegado (nem todos).

Essa cena que acabei de descrever acontece todos os dias, em todas as salas de aula, em todos os corredores, em todas as salas de chefia. Às vezes eu chego para requisitar um material, a pessoa que deveria me atender está com seu aparelhinho na mão, digitando freneticamente, ou rindo de algum vídeo que lhe enviaram. É necessário levantar a voz para que percebam que estou ali.

Nos intervalos das aulas (o famoso recreio) ninguém mais conversa, troca ideias, fofoca. Aliás, trocam sim, mas com alguém do outro lado, talvez até com desconhecidos. O mais impressionante é o silêncio que se instala nesses locais onde antes era só algazarra, risadas e correrias. Agora eles se espalham pelos cantos com os olhos fixos nos seus aparelhinhos mágicos.

Ainda hoje, depois das aulas, fui jantar no restaurante da escola e me deparei com uma cena deprimente: o celular fica ao lado do talher, é uma garfada na boca e uma conferida no aparelho. As pessoas comem com os olhos fixos nele, creio mesmo que nem sabem o que estão comendo.

Eu fico me perguntando: o que está acontecendo? que escravidão é essa? o que há de tão interessante nessas modernidades? Claro que são muito úteis, agilizam a comunicação, facilitam muito a nossa vida, mas o que vemos por aí é a vida na palma da mão. E eu me pergunto: o problema sou eu? se sim, pare o mundo que quero descer, por favor! Em algum lugar em que não haja telefone...ou onde ele seja usado apenas para se falar.

Ftima
Enviado por Ftima em 05/12/2014
Reeditado em 07/12/2014
Código do texto: T5059124
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