Minha Canção de Inverno

Frio...

Mínima de seis graus hoje e previsão de quatro para amanhã...

“Canção de inverno

[QUINTANA, Mario. Canções, p. 44 - Editora Globo, 2005]

'Pinhão quentinho!

Quentinho o pinhão!'

(E tu bem juntinho

Do meu coração...).”

Toda vez que faz frio, penso neste poema. E sinto os cheiros do inverno. Não sei como explicar, mas o vento gelado do inverno traz um cheiro característico. E hoje, vestida com tanta roupa que pareço um casulo, senti vontade destas coisas típicas de inverno: canjica com farofa de amendoim torrado; pinhão cozido; milho assado; sopa de mandioca com costelinha de porco; polenta com frango; chimarrão; café fumegante na caneca; chocolate quente; vinho quente; quentão; pipoca embaixo da coberta e na frente da televisão; churros; mocotó do Rafa; feijoada do Wandão (estes só para os habitantes de Maringá); pinguinha na Cachaçaria Água Doce; arroz doce tirado do fogo que não dá dor de barriga coisa nenhuma...

São tantas coisas gostosas...

Lembro quando a Vó Landa (mãe de minha mãe) fazia pão todos os sábados à tarde e a família toda se reunia para comer pão quente com manteiga e tomar café. A cozinha se tornava pequena para tanta gente, mas o calor imperava. O calor humano e do forno faziam com que o frio ficasse apenas da porta para fora. Quando o frio estava muito, ela fazia leite fervido com farofa de amendoim e dava para a criançada. O apelido que ela deu a este leite é chá de “véia”. Se era para velhos ou não, eu não sei, só sei que ela servia para nós e este carinho não apenas aquecia a barriguinha, mas o espírito junto... Hummmm!, acabei de me lembrar das gemadas com leite quente e canela que ela nos servia também! Tantos carinhos quentinhos... sem contar os inúmeros casaquinhos e mantas de crochê que ela nos fez. Afinal, a Vó Landa hoje tem 80 anos. Apenas quatro filhos, mas 12 netos e 14 bisnetos (sendo que um ainda está a caminho).

Ano passado, quase a matamos do coração. Por meses planejamos e organizamos uma festa surpresa para comemorar seus 80 anos. Que alegria! Quanta emoção! Até seu cardiologista esteve presente. Diagnóstico dele: “Se a Vó sobreviveu a esta festa, do coração ela, certamente, não morrerá”. Amém, Doutor Osvaldo! Mulher lúcida, forte e batalhadora. Vende Avon e ainda faz crochê para as netas que estão de casamento marcado. Os bicos nos panos de prato, toalhas e a colcha de crochê não podem faltar para nenhuma. Não faltaram para as que já se casaram e, certamente, não faltarão para as que ainda não.

Inverno, tempo frio, cobertas, sopas, chazinhos... lembranças atreladas a uma imagem de avó.

Por estas e outras razões é que o inverno é minha estação preferida. E também porque minha cidade fica muito linda sob o sol de inverno. Mas isso é assunto para um outro dia.

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 29/05/2007
Código do texto: T505943