O PREÇO DA VERGONHA

Acabei de saber que um ministro japonês, da agricultura, se não me engano, suicidou-se por ter vindo à tona que ele recebera recursos de campanha política não declarados.

Imaginem. Candidatou-se a algum cargo eletivo, provavelmente não se elegeu, recebeu recursos para a sua campanha, declarou parte deles, omitindo outra parte. O fato veio a público e ele, de 62 anos, decidiu por dar fim à própria vida. Parece que lá no país do sol nascente vergonha se paga com a vida.

Não é a primeira vez que a imprensa noticia fato semelhante. A cultura e a ética japonesas são tão fortes que têm levado homens públicos a darem cabo da própria vida por terem praticado algum ilícito. Não é que os homens públicos japoneses não pratiquem atos ilícitos. Praticam mas, se descobertos, renunciam às suas vidas.

No mundo inteiro há pessoas honestas e desonestas. O percentual de desonestos em relação aos honestos é que varia. Lá, no Japão, esse percentual deve ser muito pequeno. Em compensação, em outros países...

Em outros países, se o preço da vergonha fosse a vida, teríamos que procurar com lupa cidadãos dispostos a ocupar posições públicas.

Teríamos até que contratar especialistas em cálculo para estabelecer, com razoável margem de erro, aquele percentual de homens públicos honestos em relação aos desonestos. Talvez tivéssemos até que inverter o numerador e o denominador da fração, caso contrário o resultado poderia ser menor do que um.

E se todos os desonestos resolvessem dar fim às suas vidas, de tanta vergonha, e se os funerais ficassem por conta dos cofres públicos, o país provavelmente teria que cortar gastos dos orçamentos da educação, da saúde e de outras rubricas para dar conta do tamanho da despesa. E muitos cemitérios teriam que ser construídos.

A sorte é que, feita essa despesa enorme, em pouco tempo as finanças do país estariam novamente em ordem e cada vez melhores, possibilitando, quem sabe, permitir a todos almejar um futuro mais digno. Com mais vergonha, pelo menos.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 29/05/2007
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