Vagando pelos pensamentos...

Vou te contar que ultimamente eu demoro à dormir. Talvez seja culpa dos horários que venho "escolhendo" para acordar, mas não acredito muito nesta hipótese. Acho que essa micro-insônia se deve ao meu pensamento eufórico que flutua distante, que pensa coisas tão mirabolantes que no outro dia nem se lembra. Todavia milagrosamente me recordo agora uma viagem de ontem a noite. À princípio imaginei um mundo soberbo, com pessoas neuróticas por carinho e compreensão. Depois tentei entender porque as pessoas se encontravam nessas condições. Pensei na frieza áspera que vejo nas balas perdidas, no caráter indolor que habita os pensamentos violentos. Depois desisti, achei negativo em demasia pensar uma coisa dessas antes de dormir, no mínimo teria pesadelos. Então busquei uma coisa mais suave para decifrar o mundo que imaginei. Pensei na evolução do homem, me veio então suas invenções. E me veio a poética frase em mente: depois que o telefone foi inventado, a distância foi encurtada, mas surgiu uma saudade muda. E continuei pensando. Quem contestaria uma invenção miraculosa? Ninguém, por isso a saudade permaneceu. Pensei que o telefone deveria ser fantástico, por sua magia, por sua rapidez, por sua praticidade, por ser capaz de tornar as cartas coisas obsoletas. Pensei ainda que o telefone fez as pessoas ficarem mais acomodadas, fez os encontros diminuirem, fez as visitas não serem mais visitas-surpresa. Imaginei meu aniversário com todas as visitas de pessoas que costumam apenas telefonar... Enfim, muitas coisas foram pensadas, prós e contras que envolveram (e envolvem!) essa engenhoca que se chama telefone. Depois disso acho que adormeci, pois não lembro de mais nada. Porém refletindo hoje sobre meus pensamentos vãos, percebi que o ponto fraco da invenção humana é não poder inventar um meio de consertar o que ficou perdido pelo caminho de suas invenções. Para isso o remédio é usar o meio mais remoto da qual ainda não foi inovado: a saudade transfigurada em presença, num encontro face-a-face.

Flávia Freitas
Enviado por Flávia Freitas em 29/05/2007
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