A MULHER : DA SUBMISSÃO À IGUALDADE

Aluisio Rodrigues

O conceito de companheira do homem, dado à mulher no passado, em especial no mundo ocidental, tem atualmente um significado diferente, e, diríamos até, mais autêntico. Há um sentido igualitário que contraria o antigo chavão machista de que atrás de um homem bem sucedido há sempre uma mulher. Está ultrapassada a conotação de submissão à autoridade do marido ou companheiro. A cada dia a situação é de equilíbrio e se encaminha para inversão dos papéis. Ao lado de uma mulher bem sucedida em qualquer atividade há lugar para um homem participativo e atuante como colaborador.

Na vida em comum não é diferente. Ela exerce uma posição tão importante quanto ao do companheiro. A vida moderna impõe obrigações cada vez maiores ao casal, tornando difícil, às vezes impossível, cada uma das partes assumir isoladamente as responsabilidades. A distribuição dos encargos domésticos, principalmente os econômicos, sepultou a figura da mulher representada por nossas avós, cuja finalidade principal no casamento (ou união) limitava-se à procriação, educação dos filhos e administração da cozinha.

No campo profissional, embora se alegue discriminação, é crescente a participação da mulher nos cargos de direção ou chefia. Se ainda não se chegou ao estágio ideal, há um progresso acentuado, se comparadas às situações de ontem e de hoje.

A mulher moderna, produto da revolução tecnológica, que levou à revolução dos costumes; à eliminação das fronteiras entre as nações, e à globalização, assumiu uma postura diferente, uma posição igualitária na vida pública, na profissional e na conjugal. Ainda que não se possa generalizar, a tendência é de desenvolvimento do processo de emancipação, com igualdade total num futuro não muito distante.

Não se deve entender essa previsão como um engajamento na luta radical das feministas. Tudo se limita à análise da atual conjuntura e das perspectivas que se antevê como fruto dessa análise. Se, por exemplo, considerarmos isoladamente a união conjugal como parte integrante dessa conjuntura, identificaremos talvez a mudança mais significativa. O casamento formal e permanente faliu como instituição até mesmo nos países de tradição cristã. Prevalece cada vez mais a informalidade; a união movida por simples afeto, pela convivência ou conveniência; pelo “querer bem” do momento; por um novo conceito de amor, muito bem definido no verso de Vinícius de Morais: “que não seja imortal, posto que chama, mas que seja infinito enquanto dure.”

E sendo a mulher e o amor inseparáveis, não será ele afetado por sua ascensão na escala social ou profissional, independentemente da posição a que chegar, por mais efêmera seja a ocasião.

Se o casamento formal ainda sobrevive, seja por razões religiosas; ou conveniência na manutenção de um status compatível com os padrões ditados por determinados seguimentos sociais, induvidoso é que a aparente tranqüilidade da instituição esconde um movimento subterrâneo de enfraquecimento de sua estrutura. Se antes se identificava como a união de duas partes, atualmente se constitui na aproximação de dois inteiros e o sucesso depende da boa convivência entre ambos.

E a mulher desempenha um importante papel nesse contexto. A sua posição, conforme referência em outra oportunidade, varia de acordo com a condição econômica, diretamente ligada à participação nos encargos de família. Sua independência ou submissão dentro da relação é diretamente proporcional a essa posição, a não ser que fatores eminentemente pessoais direcionem em sentido inverso. Mas, em linhas gerais, a situação se apresenta assim delineada, diversa daquela preconizada na Constituição Nacional Inglesa, lei do século XVIII, segundo a qual "Todas as mulheres que seduzirem e levarem ao casamento os súditos de Sua Majestade mediante o uso de perfumes, pinturas, dentes postiços, perucas e recheio nos quadris, incorrem em delito de bruxaria e o casamento fica automaticamente anulado.”

A realidade presente também não comporta as restrições impostas pelo sábio da Igreja Católica, SantoTomaz de Aquino, ao pregar que “para a boa ordem da família humana, uns terão que ser governados por outros mais sábios que aqueles; daí a mulher, mais fraca quanto ao vigor da alma e força corporal, estar sujeita por natureza ao homem, em quem a razão predomina.”

Sendo outros os tempos, outros os vento, não há igualmente sentido para a irreverência de um aluno que certa vez afirmou, por mera provocação às colegas de classe: “ora, se a mulher já fuma em público, de que necessita mais ?”

Biuza
Enviado por Biuza em 30/05/2007
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