NO SUFOCO

O sol queimando la fora pode significar vida , pode ser lindo e tudo mais , mas sinceramente , se você não esta na praia , ou na piscina ou com uma bebida gelada em mãos o sol transforma tudo numa porra de dia quente e longo . Então o banheiro fica mais movimentado

que o normal , são três ou quatro banhos no dia , duas cuecas molhadas de suor do saco e da bunda e se você bebeu muito na noite anterior o suor se torna fetido e faz com que a gente se sinta uma galinha suada . Sim ,galinhas fedem ainda mais quando suadas . Teve uma vez , minha familia estava passando o feriado na casa de uma tia em outro estado e meu pai resolveu comprar três galinhas para o jantar de sabado a noite . Fui com ele buscar as empenadas numa fazenda . Meu pai escolheu os animais , negociou o preço com o dono do galinheiro e meteu as pobresinhas num saco de feijão , amarrou a boca e jogou o saco no porta malas , com as bochinhas ainda vivas , se debatendo , dando e recebendo bicadas , tentando ficar em pe dentro do saco , tentando puxar ar e tudo mais . Eram por volta das

duas e tantas da tarde e na sombra fazia trinta e cinco graus . Era um daqueles dias que o cara la de baixo resolve ligar o aquecedor no maximo .As galinhas ficaram lá no porta malas por uns quarenta minutos , até retornarmos a casa da minha tia . quando chegamos meu pai tirou o saco de feijão do porta malas e o jogou no chão como se fosse um cesto de roupas sujas . As galinhas ainda estavam se mexendo , então ele , meu pai , abriou a boca do saco e um fedor de morte saiu la de dentro . Tinha cheiro de merda , pena , sofrimento e agonia .Antes de colocar as galinhas no saco o senhor que as vendeu amarrou suas patas , mas de alguma forma , uma das tres se soltou , e num momento de distração a safada disparou pela garagem , ganhou a rua e correu em direção a um pasto proximo . Enquanto minha mãe ria , meu pai praguejava . '' Você sabe quanto aquela porcaria me custou ? '' .As outras duas ainda estavam dentro do saco , não se mexiam tanto , estavam fracas , a vida lhes deixava aos poucos de forma cruel e penosa . Minha tia então pegou as duas , levou até apia e abriu o pescoço de uma com uma faca de dentes , depois a soltou pelo quintal com o sangue a lhe jorrar . Ela se debatia , tentando se manter em pe com as duas patas amarradas , batia as asas , soltava alguns sons dolorosos ... achei aquilo horrivel . A outra galinha estava

dentro do tanque , toda suja do sangue da companheira , e logo em seguida teve seu pescoço serrado pela faca de pão tambem , e eu , mesmo achando tudo aquilo cruel e sujo e covarde permaneci olhando, até que a primeira galinha tombou e parou de se mexer . logo em seguida a outra tambem tombou . Para depena-las minha tia enfiou uma , depois a outra numa panelona com agua fervente . La estava eu ,olhando tudo , enquanto meu pai , minha mãe , meu tio ,

minha tia , meus primos e primas conversavam e riam e bebiam cervejas geladas . Conversavam sobre novela e dinheiro enquanto as duas galinhas ferviam na panela . então ,enquanto a chama do fogão ardia , as galinhas ferviam e meu pai , minha mãe , minha tia , meu tio e meus primos riam e conversavam senti algo que nunca havia sentido antes . Na epoca não sabia bem o que era o tal sentimento , mas eu precisava sair de perto daquele povo que ria e conversava , então fui pra garagem e quando o sorveteiro passou empurrando seu carrinho e tocou a buzina precisei sair da garagem e fui para o banheiro e no caminho cruzei com o meu primo e ele me chamou para jogar bola e tudo o que eu eu fiz foi um não com a cabeça . No banheiro molhei o rosto e quando vi meu rosto refletido no espelho senti a mesma coisa que estava sentindo pelo meu pai , minha mãe , minha tia , meu tio , meus primos e o sorveteiro ; senti que precisava sair de perto mas não tinha como sair de perto de mim .

2013

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 15/12/2014
Código do texto: T5069801
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