Carinho - Uma droga perigosa?

Certo dia conversando com um amigo, me surpreendi ao ouvi-lo dizer que considerava carinho uma “droga muito pesada”. Discordei. Como? Carinho não é uma droga. Carinho é bom. É confortável. É aquele calor ameno e doce que nos mantém calmos. E ele insistiu: Sim. É uma droga. Vicia. Ainda salientou que as pessoas gostam de drogas, mas faz mal para a mente. Na ocasião, ri da ideia. Aquele riso meio bobo. Continuamos conversando sobre outros temas e a “perigosa droga denominada carinho” foi tema deixado para trás. Até agora.

Não sei o porquê lembrei-me da conversa que acabei de contar a você, leitor. Entretanto pensando bem, não é que meu amigo tem razão? Carinho é uma droga perigosa, altamente viciante. Tão viciante que causa dependência em quem fornece e em quem recebe. Pense em todas as drogas lícitas e ilícitas: Já viu o dono do bar sentir os efeitos da abstinência no fornecimento de bebidas (não digo efeitos financeiros, mas sim efeitos físicos)? Já viu o traficante ter abstinência de fornecer maconha? Cocaína? LSD? Não? É... Eu também nunca ouvi falar nada assim... Mas o carinho... É, querido leitor, o carinho é outra história. Você se acostuma muito rápido a recebê-lo. Seja carinho romântico, do namorado (a), do (a) ficante, seja carinho de amigo. Seja carinho físico, abraço, aperto de mão, olhar. Seja carinho “virtual”: uma mensagem, um telefonema, um e-mail, qualquer coisa pra perguntar “ei, como foi teu dia”.

Agora, repare: Você se acostuma também a dar carinho. A sorrir, a telefonar, a abraçar; Se acostuma a andar de mãos dadas. É um vício que já nasce conosco, desde crianças. Em maior ou menor grau, todos gostam, desejam, procuram ou fogem dessa “droga” chamada carinho.

Todos querem receber e todos querem dar carinho a alguém. Já reparou nisso? E como pode ser cruel a abstinência! Os sintomas para quem tem abstinência de receber carinho vão desde uma melancolia leve, um quase “deixa pra lá”, até uma emotividade profunda: lágrimas que vem aos olhos até assistindo comerciais de margarina. Crises de choro nos finais de tarde. Lágrimas e mais lágrimas que inundam a paisagem à beira-mar. E os sintomas de quem está em abstinência de dar carinho? Atenção excessiva – aquele (a) amigo(a) que sabe um monte de coisas que você gosta e te marca no facebook quando vê algo. Te envia e-mails. Deixa recados fofos para saber se está tudo bem. Chama-te sem motivo nenhum pra uma conversa nem que seja aquela conversa rápida onde nem há assim tanto assunto. Isso é carinho represado. Preso e angustiado na alma. Carinho que precisa ser ofertado. E o mais interessante nesta droga: Ela é produzida pelo coração de alguns para ser ofertada a outros, especificamente. Você não sente falta de dar carinho para qualquer um. Só para aquele grupo de pessoas queridas que chamamos amigos. Só para aquele alguém especial que o cupido se encarregou de colocar na sua vida. Estranho né? E não há tratamento! O jeito é ofertar e receber carinho, sempre!

O mais engraçado: Lendo este texto, reparei que eu também sou uma eterna viciada nessa droga potente e natural. E o pior – vício de mão dupla, vício de dar e de receber. Minha abstinência é das mais pesadas: lágrimas, melancolia, mil mensagens, conversas a toa, vídeos e fotos marcados com atenção nas redes sociais. Pois é, agora quando me perguntarem se eu tenho algum vício direi: Sim, sou viciada em uma droga pesada chamada “carinho”: Sou uma amiga carinhosa e carente. E um dia talvez venha a ser a namorada carinhosa e carente de alguém... Quem sabe?

Bob Regina
Enviado por Bob Regina em 16/12/2014
Código do texto: T5071669
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