VIVA, FRANCISCO!!

Em 1960, eu tinha cerca de seis anos de idade e não conseguia entender por que as pessoas brincavam umas com as outras, dizendo que a recompensa de algo era “uma viagem apenas de ida para Cuba”. Embora eu não pudesse abstrair o real sentido dessa expressão, por meio das fisionomias e dos tons jocosos das falas, eu sabia que ela estava ligada a outros termos “abomináveis” entre os adultos: comunismo e comunistas. Eu morria de medo deles, porque era gente que negava Deus e gostava de “comer criancinhas”.

Como compreender, naquela idade, sem nenhuma noção de geopolítica, por que os Estados Unidos tinham ficado tão furiosos com o fato de haver um pontinho comunista na América Central? Afinal, o que representava para o mundo uma ilha ter tido a coragem de assumir o modelo político que predominava na URSS- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas? Até que ponto o Golpe Militar de 1964 foi influenciado pelo medo de que o “mau exemplo” daquele paisinho do Caribe fosse seguido por um país de dimensões continentais como o Brasil?

Mesmo que eu fosse adulta naquela época, em função de os meios de comunicação serem precários (rádios a válvulas, que chiavam demais!!), dificilmente eu teria como saber que antes de 1959, Cuba era um país em que as indústrias de açúcar e muitos hotéis eram dominados por grandes empresários norte-americanos, mas onde, também, vivia grande parte da população insatisfeita pelas extremas pobreza e desigualdade social. Esse foi o campo fértil para que as revolucionárias ideias de Fidel Castro e Che Guevara se expandissem e propiciassem a tomada do poder naquele país em 1º de janeiro do referido ano. O novo governo fez reforma agrária, nacionalizou empresas e fuzilou colaboradores dos Estados Unidos.

Como represália, as autoridades da terra do Tio Sam cortaram relações econômicas e diplomáticas com Cuba, que passou a depender da ajuda financeira, militar e técnica da União Soviética. Contudo, com a dissolução da URSS e o fim da Guerra Fria, o auxílio externo cessou, jogando o país em uma grave crise econômica. Dessa forma, a partir de 1991, seu povo passou a depender basicamente dos dólares obtidos por meio do turismo, aumentando o desejo de muitos cubanos migrarem, a qualquer preço, para países capitalistas, inclusive os Estados Unidos.

Até o dia 17 de dezembro de 2014, muita gente pouco sabia ou se importava com essa história e as consequências perversas dela decorrentes, mas há 78 anos, nesse mesmo dia e mês, nasceu em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, um jovem que aos 19 anos entrou para a Companhia de Jesus. Pesquisas sobre sua vida revelam críticas a alguns de seus posicionamentos durante a ditadura portenha, mas a história jamais poderá se esquecer do homem que, desde o conclave de 13 de março de 2013, assumiu o maior cargo do Vaticano, e, desde então, só tem dado ao mundo exemplos de humildade e de amor ao próximo.

Por sua influência e com a ajuda do Canadá, após 18 meses de muita negociação, os 53 anos de inimizade declarada entre Cuba e Estados Unidos cessaram, quando as autoridades americanas anunciaram o novo laço diplomático e a instauração de uma embaixada americana em Havana. Esse fato é maravilhoso, porque antes que as pessoas se hostilizem por serem capitalistas ou comunistas, elas são filhas de Deus, mas só merecem esses títulos, quando enxergam no outro a mesma Paternidade.

O que são 53 anos para Deus? O que representa esse tempo na história da humanidade? Quanto tempo mais demorará para que o homem entenda que as divisões geográficas são linhas imaginárias impostas por aqueles que têm miolos de ervilha, pois pensam que são eternos e, nessa crença insana, desconsideram que a Terra pertence ao seu Dono, que benevolamente, nos permite aqui passar algum tempo?

Não sei as respostas, mas rendo todas as homenagens ao Papa Francisco, pois sei que sem seus exemplos de decência e respeito à humanidade, nem Barack Obama e nem Raul Castro teriam se rendido aos seus pedidos e argumentos no encontro que tiveram no Vaticano. Rogo a Deus que os exemplos desse Seu filho sejam seguidos por todos, inclusive por aqueles que se dizem cristãos, mas são incapazes de abrir mão do egoísmo e reconhecer no outro um irmão.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 18/12/2014
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