Ordinárias Crônicas Adolescentes - Matheus cap X

X

Os meninos foram embora, demos uma ajeitada no quintal e fomos todos tomar banho e dormir, afinal estávamos todos de uma maneira ou de outra cansados. Quando cheguei ao meu quarto e vi meu celular carregando, lembrei que não tinha falado com o Breno ainda, havia muitas mensagens, de bom dia, boa tarde, onde que eu estava e por aí vai. Respondi-as todas numa mensagem explicando que havia deixado meu celular carregando o dia todo e que a bateria tinha dado problema, falei que os meninos vieram aqui e que havia sido bem divertido, também disse que estava com saudades e que esperava vê-lo no dia seguinte no cursinho e desejei-lhe boa noite. Acho que foi uma boa mensagem, bem carinhosa e explicativa, porém a resposta que tive foi bem seca, chegou apenas “Ok, boa noite ”.

Fiquei pensando naquela mensagem seca, mas também fiquei pensando como ele passou o dia tentando falar comigo e não conseguindo, deve ter sido muito ruim. Além das mensagens dele, havia várias ligações perdidas do Cabeça e da Melissa, mensagens da Tamara e do Erick perguntando se eu estava bem e falando que eu tinha sumido da festa. Havia também três ligações do Ramon, que preferi ignorar e foi o único que não respondi.

Mandei várias mensagens para o Cabeça e para a Mel explicando a situação com o Breno, nenhum dos dois me respondeu, no entanto. Fui tomar meu banho para relaxar e poder dormir e não conseguia tirar isso da cabeça. Quando saí havia três mensagens novas no meu celular, a primeira era do Henrique, dizendo que era para eu relaxar, que o Breno tinha ficado bolado comigo, mas que amanhã ia estar tudo bem. A segunda era da Mel, dizendo que com certeza ele estava bolado e que eu tinha que dar um jeito de resolver as coisas amanhã, mas que ia dar certo. A terceira era só da operadora mesmo, congratulando-me por ter ganhado um sorteio de mil reais se eu respondesse à pergunta, minha cara de quem acredita nisso. Enfim, larguei tudo para lá e fui dormir.

No dia seguinte, acordei, escovei meus dentes, tomei café correndo e fui para a escola de carona com meu pai, como de costume, no caminho dei uma checada no meu celular e só tinha mensagem do Henrique perguntando que horas eu passaria lá, e eu respondi, só para dar um susto “Já tô aí”. Eu não parava de verificar o celular, ascendia a tela a todo momento e meu pai, claro, reparou nisso e me perguntou:

- Que tanto que você mexe nesse treco?

- Nada não pai, só olhando hora – Respondi sabendo que ele não ia acreditar.

- Você ansioso pra ir pra escola? Sei, aposto que você tá esperando a ligação de alguém.

- Ligação não, mas tô esperando sim.

- Filho, não se importa muito com isso, tudo acontece na hora certa e você pode falar com essa pessoa também, nada te impede.

- Ah pai, mas é muito ruim esperar e não saber o que tá acontecendo.

- É sim, mas se você mandar alguma coisa, você terá mais chances. Fica calmo, filho, vai dar certo.

- Assim espero.

- Você puxou sua mãe nisso, quer tudo na hora, não quer esperar por nada, mas adora fazer os outros esperarem, sabia que você tá fazendo a mesma coisa com esse menino?

- Tô?

- Tá, então manda logo algo pra ele.

- Tá bom, pai.

- Teimoso...

Chegamos à casa do Henrique, ele entrou no carro, cumprimentou-nos e fomos para a escola. Acho que ninguém gosta de ir à aula numa segunda-feira após um ótimo final de semana, mas a vida nos obriga a fazer coisas que não gostamos às vezes. A escola estava naquele burburinho matinal habitual, todo mundo falando e encontrando os amigos e colegas, eu com o celular na mão fui explicando ao Cabeça a situação em que me encontrava e disse-lhe o que meu pai me havia dito, ele concordou e sugeriu que mandasse uma mensagem ao Breno e eu o fiz “ Oi, bom dia! Como vc tá? Beijo ”. Acho que estava adequada para uma mensagem de bom dia e o Henrique disse que estava “de boa”. Um menino, que deveria ser do sexto ou sétimo ano, mas que era muito alto, veio correndo em minha direção e, ao batermos de ombro, derrubou meu celular que foi deslizando destravado pelo chão do corredor.

- Porra, moleque, olha pra onde ‘cê anda, caralho! – explodi

- Desculpa, véi.- Respondeu o garoto assustado.

- Desculpa o caralho, agora perdi a porra do meu celular por tua causa, ô gigante.

- Porra Matheus, calma. De boa cara, pode ir. – Disse Henrique.

Eu estava tentando me acalmar, quando o Gui, um garoto gay que eu não gosto do 3B, pegou meu telefone. Ele sempre faz piadas comigo quando tem a chance e vive implicando comigo, o Henrique diz que eu que sou muito dramático, mas nesse dia ele soube que era verdade o que eu sempre dizia sobre esse menino: uma naja. Ao pegar meu telefone, ele simplesmente foi para o meio do corredor e disse em voz alta e clara para que todos ouvissem:

- Olha gente, o Matheus Moraes do 3A também é do babado, tem um monte de mensagem carinhosa prum boy chamado Breno, ai que lindo, bicha! Vou ler uma pra vocês. – E leu a última mensagem que eu havia mandado, todo sorridente e com um olhar vingativo, não sei por quê.

Nem eu e nem o Henrique conseguimos fazer nada enquanto ele estava lá, vangloriando-se por explanar para a escola toda a minha sexualidade. Todos a volta riram, é claro, e imediatamente todos começaram a me zoar. Eu não sei explicar o que eu estava sentindo naquele momento, mil coisas passavam pela minha cabeça, vontade de matar aquele filho da puta, vontade de correr dali e fugir para um lugar bem longe, vontade de gritar e vontade simplesmente de abaixar a cabeça e sentar e chorar. Sorte a minha ter o Henrique, enquanto eu continuava sem ter reação alguma, ele foi até o Gui e tomou-lhe o meu celular da sua mão e disse para todo mundo ouvir:

- Olha, o Matheus é gay sim, não era pra vocês saberem desse modo escroto e ridículo que esse moleque babaca disse não, mas ele é e não tem vergonha nenhuma, só tem receio de que vocês, mais babacas ainda, fiquem de mimimi perto dele e não deixem o cara na boa. Se alguém tiver algum problema com ele, vai ter que resolver com nós dois, porque ele é meu amigo, meu parceiro e não é porque ele é gay que ele não seja um cara maneiro, valeu?

Por incrível que pareça, houve palmas e o povo acabou recriminando o Gui, alguns meninos, óbvio, me zoaram muito, mas nada de muito ofensivo e nesse exato momento chegou o diretor e quis saber o que estava acontecendo. Resultado: fomos eu, Cabeça, Gui e o moleque do sexto ano para a diretoria. O babaca do Gui tomou uma suspensão e um mega fumo do diretor, alegando que o que ele fez é crime e, se eu quisesse, poderia processá-lo e ele poderia pagar por isso, mas não quis processá-lo. O menino do sexto ano ganhou uma advertência e foi liberado, já eu e Henrique tivemos que contar tudo o que havia acontecido, ele foi liberado, eu tive que ficar e esperar que meus pais chegassem à escola para uma conversa com a equipe pedagógica, ou seja, fodeu.

Gustavo Ribeiro
Enviado por Gustavo Ribeiro em 30/12/2014
Código do texto: T5085123
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