Caminhadas e afazeres

À luz está apagada mas mesmo assim enxergo todo o meu quarto, que anda sujo e mal aproveitado. Tem cadernos, livros e folhas no chão, dois copos semi vazios ao lado da janela, uma toalha pendurada na vidraça e roupas espalhadas ao redor da cama.

Não durmo muito bem a alguns dias, sinto que meu corpo não vai aguentar, cedendo a complicações e resfriados.

Com dores de cabeça me levanto e vou me esgueirando até porta, tateando as coisas que tropeço. quero água e noto que esqueci o copo volto me aproximo da cama me apoiando nela, abaixo a coluna dolorida de um jovem estranho, pego o copo e volto a me direcionar para a cozinha.

Caminhando descalço pelo apartamento sinto o chão gelado, os pelos em arrepios e as enchaquecas fora de hora. Tudo que me contorna de forma unica as paredes brancas, as dobradiças da porta do banheiro tudo me acerta.

Chego na cozinha despejo o pouco de água que la tinha e encho o copo novamente, a torneira está molhada e as dores de garganta me cercam de novo. Enquanto bebo do liquido, percebo que amanhã terei de me reconstruir.

Parado na cozinha, apoio meu corpo sobre a pia e me disperso, fico pendurado entre o estar e o não estar. Em outro mundo, começo a ouvir de tudo, como se tivesse assistindo sem ver... Os cachorros latem uns para os outros na rua, na esquina o motociclista buzina para alertar que está passando pelo sinal vermelho e o taxista no acostamento bate à porta do carro. Eu os escuto densamente, enquanto bebo do copo d'água.

Com o copo na mão caminho de novo para o quarto, com as mesmas enchaquecas e pelos arrepiados observo a luz do corredor que está quente e acesa, chego na entrada do quarto e percebo olhando a porta semi aberta que onde me deitava na cama, não caibo mais.

De bruços suas pernas se encontram sobrepostas umas as outras, um dos braços à beirada do colchão, envolto pelo lençol que cobre a parte inferior da costas.

Estava à tomar o meu lugar e eu nada ouso fazer.

Deixo a porta aberta para enxergar melhor o quarto e caminho até o lado direito da cama. Me sento no chão em cima de uma blusa de frio, dobrando as pernas e me recostando na parede.

Então, me perco de novo me penduro entre o ser e o não ser. Me desligo e não ouço nada que não fosse daquele quarto. Ouço o vento passando pela janela, o som do computador carregando, o barulho da cama, enquanto ela se mexe.

Nada me escapa.

Dela, nada escapou... Peguei de tudo, a respiração, o som dos braços ao se roçarem... Consegui até ouvir seu coração, enquanto ela caminha para onde eu não consigo alcançar.

João PS
Enviado por João PS em 31/12/2014
Reeditado em 23/06/2016
Código do texto: T5086264
Classificação de conteúdo: seguro