O relato de um prisioneiro

Deve ser em torno de onze horas, o relógio bate e o carcereiro a sondar pelas celas para o toque de recolher, uma a uma, as luzes se apagam, enfim, era o anuncio de uma noite bem longa. Eu aqui, como sempre, deitado, olhando ao teto com o pensamento longe, lembrando de vários fatos de minha vida, dentre eles, o motivo pelo qual estou aqui nesta cela imunda.

Aqui no presidio, as horas demoram a passar, cada minuto parece cerca de um ano, pois o sistema carcerário não possui ocupação para todos; temos sempre que ter espirito forte para não deixarmos a nossa mente ser invadida pelas névoas possuidoras da maldade, eis um lugar que não desejo ao meu maior inimigo, longe de tudo e todos aqui estou, as trevas e a grade são o meu limite.

Já que apresentei a minha morada, agora conto como vim parar aqui. Era uma noite de sexta-feira, quando eu acabara de tomar o meu banho, passar o meu perfume, enfim, estava me emplumando para ir ao Scorpions, meu salão de baile preferido. Chegando ao Scorpions, cumprimentei alguns amigos e logo fui para o meu cantinho avistar as pessoas dançarem e quem sabe, ter uma sorte grande.

Foi quando fui me encostar ao meu canto na parede, apareceu uma linda mulata, daquelas arrasa quarteirão, dançando freneticamente e num jeito malicioso de ser, me chamou para dançar. E claro, nada besta, eu fui, dançamos várias seleções juntos e, numa delas, que era a seleção de música lenta, trocamos afagos e logo saímos dali de mãos dadas. E detalhe, ainda eu não sabia o nome dela, foi quando fiz a pergunta e ouvi: Gorete.

Gorete, hum, nome simples mas que combinava com aquela linda mulata de olhos verdes e corpo violão, assim que saímos do salão, fomos direto para o estacionamento pegar o meu carro, pois eu estava querendo esticar aquela noite que estava prometendo, e ela, toda linda olhando para mim com seu lindo sorriso a me maravilhar. Pronto, minha noite, estava feita. Então eu a levei a um hotel de quatro estrelas, muito bom, pois cinco estrelas era muito para o meu bolso(rs).

E ali tivemos uma noite maravilhosa, ao amanhecer tive eu uma surpresa, quando despertei, eu a encontrei desmaiada, eu desesperado, tentei acorda-la, mas já era tarde, o seu pulso não estava batendo, foi quando acionei ambulância para socorre-la, ao chegarmos ao hospital, o médico que atendeu a emergência disse que era tarde demais pois a causa mortis foi overdose, foi feito boletim de ocorrência pelo policial de plantão e assim fui eu conduzido à delegacia.

Agora imagine o meu desespero, eu cujo propósito era de ter uma noite maravilhosa com uma mulata espetacular, no dia seguinte sendo conduzido a prestar depoimento num distrito policial. Fatalidade do destino talvez? Creio que não, acho que foi descuido da minha parte, pois como eu pude sair com uma pessoa que acabara de conhecer? Sem ao menos saber mais detalhes de quem era?

Enfim, já era tarde, e eu acabei sendo acusado de homicídio culposo, pois drogas foram encontradas na bolsa de Gorete e havia pó espalhado pela cama do hotel, resumindo, estou ferrado, acionei o meu advogado que trabalhou para me tirar do flagrante, eu, um sujeito que apenas queria se divertir, o que era para ser sonho agora virou pesadelo. O julgamento veio e eu fui condenado a oito anos de prisão pela morte de Gorete.

Agora aqui estou, em meu mundo entrevado, pagando caro pelo meu descuido, tudo por causa de uma trepada mau feita. Deitado, contemplando a escuridão de minha cela tenho como companhia somente as grades e a vontade de sair daqui e recomeçar a minha vida, você que está lendo o meu depoimento espero que tenha aprendido algo com um indivíduo que por sede de um desejo está aqui, preso, limitado e tirado de seu mundo.