CAMPO MINADO

O relacionamento interpessoal é mesmo algo tão complexo que mantê-lo imaculado por longo período é quase impossível, principalmente quando provém de relações muito estreitas. Muitas vezes, de tão efervescentes que se tornam algumas relações, estas se assemelham a um campo minado o que requer muito tato e sensibilidade para não se ferir ou ferir a outrem.

É comum no processo de comunicação algum mal entendido, algum ruído ou pessoa interposta, que dificulta ou impossibilita que a comunicação chegue ao receptor tal qual foi emitida.

Mas se por um lado há os ruídos que impedem que a comunicação se estabeleça conforme o esperado, por outro, ela própria, a comunicação, bem direcionada e cercada de maiores cuidados, é capaz de amenizar ou de desfazer as más interpretações ou ofensas havidas, das quais podemos figurar tanto no polo ativo, quanto no polo passivo.

Entre os interlocutores quase sempre há muito mais a se considerar do que apenas a mensagem e o veículo da qual ela se serve. A que se considerar, por exemplo, as diferenças técnicas, culturais, de estado de espírito, de hierarquia, de aversão recíproca, de classes sociais, de gênero, de grupos de pertencimento etc.

Todos esses e outros tantos fatores são de fundamental relevância nos nossos relacionamentos diários.

A grande diversidade de pessoas com as quais temos que nos relacionar diariamente, cada qual com suas particularidades, tornam o processo de comunicação ainda mais complexo. Cada perfil requer cuidados específicos de nossa parte, durante o processo de interação. Isso faz com que tenhamos que agir com muita perspicácia, para não melindrarmos a(s) outra(s) pessoa(s) com alguma atitude inconveniente ou que não esteja de acordo com aquele momento específico de interação.

Em casa, ao nos levantarmos pela manhã, temos que procurar realizar nossas atividades com bastante cautela para não prejudicar aquele(s) que ainda está(ão) dormindo. Precisamos respeitar o sono dessa(s) pessoa(s), embora, dado o pouco espaço de um lar aliado a ambientes comuns a todos, isso nem sempre seja totalmente possível, o que acaba por gerar conflitos. Os primeiros contatos com os nossos familiares, muitas vezes é que irão definir como será o nosso dia.

Nas ruas, no trânsito ou no transporte coletivo, temos que dividir os mesmos espaços com pessoas que nem conhecemos, cada qual carregando consigo suas alegrias, suas tristezas, suas mágoas, suas frustrações, seus conflitos, muitas vezes agravados por um despertar já tumultuado etc.

No trabalho então nem se fala, a diversidade é muito grande. Uns parecem que estão brigados com o mundo, chegam mal humorados e não cumprimentam a ninguém. Outros chegam como quem se apresenta para um castigo e ficam contando as horas para o final da jornada. No outro extremo há os mais extravagantes, que gostam de dar destaque dos seus feitos, que não são muito afetos a compartilhar opiniões. Os fanáticos por futebol são um caso a parte, sempre se apresentam ouriçados quando o time para o qual torcem venceu a última partida ou o campeonato e procuram desmerecer quando a vitória é do time adversário.

Nesse ambiente, o empresarial, sempre há, nem que seja de maneira velada, certa competição. Algumas pessoas deixam transparecer mais facilmente as suas intenções de “subir na carreira” a todo custo, motivo pelo qual muitas vezes não são tão bem aceitas pelo grupo. Outras agem com tanta naturalidade e confiança em sua capacidade, que não deixam que a busca por ascensão prejudique a qualidade dos seus relacionamentos. Talvez por entenderem que mais vale ser felizes que ter sucesso.

Com tanta diversidade de perfis e de egos com os quais temos que lidar diariamente, é preciso muita sabedoria e habilidade para percorrer ileso esse verdadeiro “campo minado” do relacionamento humano.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 16/01/2015
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