Não nos apaixonamos

Dia desses, eu estava na biblioteca pública quando vi um casal do lado de fora que, em meio a multidão, me chamou a atenção. Eles estavam rindo muito de algo que parecia ser uma piada ou um comentário debochado, não sei. A única coisa que consegui captar - além dos risos gargalhados e olhares compenetrados - foi o que definem como a boa e velha história de amor. Você sabe, aquela que te prende e não te deixa esquecer que ainda há paixão a ser resgatada nesse mundo de aparência. Apesar de que eu prefiro definir o que vi como a prova de que a simplicidade é o tempero que falta para o que tanto buscamos: o amor de nossas vidas.

Ok, talvez você esteja pensando: -"Eu não quero isso". Eu sei bem, porque, cá entre nós, nem eu quero. Não agora, mas semana passada eu queria e amanhã posso mudar de ideia de novo. Acontece que, no fundo, todos nós queremos por mais que negamos, é inevitável. Ainda mais que está cada vez mais difícil encontrar alguém relevantemente bom para te completar. Espera aí, te completar? Não, não, não... Te somar. Então, depois de uma busca incansável - mesmo que discreta -, você se percebe num lugar onde as pessoas evitam se envolver efetiva e amorosamente e, por reação e à sua defesa, resolve apenas sair sem compromisso. O que é muito bom, aliás. Porém, quando você quer e não quando você, para não ficar como "a (o) pegajosa (o)", segue essa quase lei de não se apaixonar. Olha só o que fazemos, não nos apaixonamos.

Quer dizer, perdemos a chance de encontrar o que tanto procuramos. Isso se deve pelos abraços frouxos, conversas frias, olhares nublados, mensagens ignoradas, ligações não atendidas e mentiras ditadas. Aposto que você nunca parou para pensar, mas, no seu inconsciente, uma pessoa que não te dá muita atenção merece mais a sua do que aquela que te dá valor. Repense. Chega a soar masoquista, mas gostamos - ou aceitamos - ser maltratados. Definitivamente, não faz sentido que preferimos nos submeter a esse tipo de situação à dizer que simplesmente queremos algo sério - se quisermos. E se for para levar um "não" bem na cara, que seja mais digno de uma verdade que foi dita que uma história inventada.

É o que dizem: quem não sabe o que quer, não reconhece quando encontra. É clichê? Sem dúvidas. No entanto, como eu disse, o tempero especial está naquele casal sem graça e sem roupas descoladas. O simples se torna inalcançável num mundo que exige e enaltece sempre o glamour de cada dia. Enquanto isso, quem te responde rápido no WhatsApp, ou melhor, quem te liga para conversar com você, está na última posição da sua lista de prioridades. Mas tudo bem, quando for tarde, você percebe.