BELEZA, CHAVE E FORMATURA

A pessoa quando é bonita, não importa a idade, a vida que leva, onde e como vive; não importa se é gorda, magra, preta, nude ou branca - nude tá na moda - a pessoa é bonita porque é, não tem explicação. Mas deixa esse tipo de gente pra lá, quero falar de mim agora.

O retrato aí é de 2003. Acabara de me formar no colégio. Tinha exatamente 18 anos. Não havia, sequer, um fiapo de pelo na cara. Graças a Deus, os tempos mudaram: hoje não tenho um fiapo na cabeça. A regra da beleza é a mesma da feiúra, tá?

Mas meu foco não é falar dos meus traços de deus grego, mas sim do quanto o futuro é oblíquo, escondido, amoitado... Se soubesse que faria o caminho que fiz para chegar nos, quase 30, que conheceria as pessoas que conheci, que sofreria e me alegraria como tal, caminharia afoito para o futuro ou me fadigaria na primeira chicotada que a vida me deu, logo após minha formatura. Nada é mais incerto que nossas certezas.

A única convicção que tenho olhando esta foto é que a chave pendurada na cintura tá demais. O carro era de minha madrinha de formatura, na época, vereadora, Marta Souza. Ela ainda me avisou que tava feio, mas a alegria que senti nesse dia com a chave na cinta, não troco pela decepção de hoje, ao vê-la como ficou feia aí. Vivi intensamente a sensação de sentir as meninas imaginarem que o carro era meu. Na verdade a única coisa minha aí era uma vontade gigantesca de ser, pelo menos, um terço do que sou hoje, o que ainda não é nada.

Por decisão unânime fui o orador da turma. Talvez por ser o único sem vergonha, no bom sentido, é claro. Que orgulho! Fui o orador do terceirão. Era assim que chamavam quem estava no 3º colegial. Qualquer paixão me divertia. Tudo era motivo de alegria. Felicidade maior ainda porque dias depois dei meu primeiro beijo na boca. Talvez tenha sido resultado da chave do carro à mostra.

Se conseguisse infiltrar nesta foto e voltar nesse dia, diria assim para aquele Eder: - amarre as carças, rapaz, firma os pés porque o caminho é mais longo do que imagina. Por favor, mude agora o jeito de se vestir, aproveite esse cabelo, faça todos os penteados que desejar, só não perca essa sua simplicidade e essa esperança inabalável. Deixa de chorar por besteiras. Seus sofrimentos aumentarão na mesma proporção de suas alegrias. Tô com você. Te espero lá na frente. Ah, já ia me esquecendo: vê se cuida dessa aparência aí porque quero casar. Até breve.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 24/01/2015
Código do texto: T5113111
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