"Poema" de fim de tarde

-É amarelo- um diz.

-louco! É rosa- outro retruca.

-Um tom avermelhado! Todos dizem.

Já não sei se a cor é laranja, rosa ou vermelho, mas com certeza não é amarelo. Mas também não posso afirmar ao certo porque os meus olhos sim, estes com certeza estavam vermelhos, sinal das lágrimas derramadas, o motivo é torpe, não perca seu tempo em questionar. Com o embaraço que as lágrimas causam, é ainda mais difícil distinguir e pra potencializar a confusão; um segredo: eu sempre distingui mal entre as cores vermelho e laranja e entre o verde e o azul. Bom, sem mais justificativas antes que o momento perca o significado.

Distinguindo mal ou bem tais cores, meus olhos interpretaram e meu coração sentiu que aquilo era um adeus. Como se os olhos do sol se assemelhassem aos meus, ou os meus aos dele, ah! Tanto faz, nem sei se o astro tem olhos. Só sei que, se possui estava chorando e não queria ir.

Pra confirmar a já certa morte de mais um dia, o céu veste seu manto negro, como que de luto, e solta gritos (dizem que são trovões, pra mim eram gritos). Mas, esqueçam também é irrelevante ao leitor tentar entender meu "devaneio". As gotas que desciam dos olhos do céu (suponho) a seguir me pareciam salgadas. É, é possível que eu tenha engolido uma lágrima ao invés de água da chuva (o que também não vem ao caso). Importante mesmo era o que eu sentia no caminho pra casa, a passos lentos ao contrário dos outros que corriam.

-São feitos de açúcar?!- ironizei, sem obter resposta alguma, estavam ocupados demais em salvar seus sapatos e cabelos de chapinha. Eu ia devagar, não pra ser do contra como de costume, mas sim porque queria demonstrar ao céu que eu sentia tanto quanto ele aquele dia que se fora.

-Está molhada fia!- Minha mãe exclamou (preocupada, assustada, não sei bem) ao me ver entrar na área grande do sobrado velho.

-não mais que o enterro do sol- disse quase que num gemido.

-Eu hein?! Essa menina é louca- minha irmã "preocupada", mais pra implicante eu creio.

-não é privilégio dos ditos "loucos", sentir de verdade e sonhar de vez em quando- disse, sem expressar o desapontamento pela insensibilidade dela. Saí dali, sem fome, apenas tomei banho e me deitei de toalha mesmo. Chorei junto com o céu e adormeci, à espera da cerimônia das 6:00, o nascimento de um novo sol. Não deu outra, no dia seguinte, amanheci resfriada.