Um amor passageiro - leia pra mim e eu voltarei pra você

E eu voltei. Como se não houvessem perigos e obstáculos cruzando nosso caminho, como se não soubesse que iria ser difícil. Mas escolhi voltar mesmo assim porque, apesar das feridas, não vi graça em seguir os atalhos e seria estranho se fosse fácil. E não foi. Nem da primeira, nem da segunda vez.

Me lembro de te ouvir chamando meu nome, num tom áspero, desesperado, mas doce ao mesmo tempo. Eu quis negar ter vindo de um cara tão diferente dos quais eu saía - roupas de trabalhador incansável, mesmo que com suor no rosto, uma barba mal feita e um sorriso bobo. Sim, você vestia um sorriso. Eu me lembro disso. Era inocente, puro, verdadeiro, esperançoso e tão, mas tão cativante. Talvez, fora a coisa que, em você, mais me chamou atenção. Acho que isso se deve à falta de risos como esse nas pessoas que me rodeavam. Eu estava cansada de ser sempre bajulada pelo que eu tinha. Mas você, ah... Você me bajulava pela riqueza da minha alma. Isso ninguém jamais havia feito.

Relembra comigo o teu corpo colado no meu, suspiros e gemidos. A sua voz no meu ouvido, sussurrando tesão e suplicando amor. Relembra os pequenos detalhes - os cafés na cama, as cartas enviadas, as risadas bizarras. Relembra o dia da chuva, do beijo molhado, das carícias e da sintonia, que nos colocava tão equilibrados na mesma corda bamba.

Lembra que eu te disse que voltaria, e demorei? Eu sei, eu deveria ter avisado, mas achei que tinha acabado. Engano meu. Você ainda estava lá, disposto a resgatar aquele amor adormecido por meses. Foi a segunda vez, mas parecia ser a primeira. O sentimento era o mesmo desde que você gritou meu nome. Éramos nós contra o mundo e, apesar de ter sido uma guerra desproporcional, nós vencemos.

Lembranças são o que nos tornam vivos por dentro. Você lembrou de mim e, por isso, eu voltei. Leia sempre pra mim e eu volto quantas vezes você quiser. Eu costumava achar que o tempo que tivemos não foi o suficiente, sabe? Que eu teria sempre um gostinho de quero mais - e não se engane, sinto saudades. Mas já não me ferem mais. Descobri que o amor dura uma infinidade, mesmo que de um segundo. E que o nosso foi passageiro, mas, ainda assim, é eterno.

* Texto inspiração no filme e livro "Diário de uma Paixão".