Ela é um livro

Eu nunca me dei bem com livros, eu começava escrever e logo achava a história clichê, achava um malabarismo poético supérfluo e um tanto previsível para qualquer pessoa. Mas ela foi o livro que mais mexeu comigo, ela era totalmente clichê, a ponto andar de mãos dadas na praça, de beijar quando tocasse Imagine Dragons – Demons – até porque ela escondia um demônio dentro dela, assim como eu também escondia algo dela – dizia de volta que também amava, mas mesmo sendo clichê ela não era nem um pouco entediante, conseguia prender minha atenção nas entrelinhas do que eu mesmo escrevia, sabia me surpreender e ás vezes me fazia chorar. Não sabia ao certo se era um romance, ou ficção, se eu narraria em primeira ou terceira pessoa, apenas sabia o clímax da estória.

Aquele livro tinha mais páginas do que eu poderia escrever, eu queria estar em paz, mas ela sempre chegava e esbofeteava meu rosto durante o banho me deixando em transe, logo me fazia focar naquela narrativa que meus pulsos começavam doer por cada letra escrita, minha caneta acabava a tinta e ela jogava outra cheia na minha direção sem medo de me acertar.

Juro, ela foi o livro que eu mais me dediquei escrever, não me importava as noites em claros ou as cadeiras que eu deixava vazias nos bares, importava que eu passava cada instante me dedicando e escrevendo, para que num dia, um dia como tantos outros, talvez vésperas de alguma data, eu resolvesse jogar esse rascunho fora e começar um novo.

Foi tudo sem mais nem menos, mas algo dentro de mim ainda grita que foi uma automutilação interna, um desafio para testar o quanto eu aguentaria a dor da saudade até retomar esse rascunho do inicio, em mim a saudade não dói tanto, pois foi a única coisa que restou.

"E quando escrevo sobre ela eu mal descrevo e logo me perco nas entrelinhas dos parágrafos dela."