DIA MUNDIAL DO BANHEIRO

O newsletter intitulado Agênciaminas – Notícias do Governo do Estado de Minas Gerais, de 19 de novembro de 2013, anunciou que a Copasa realiza ações na capital Mineira, em comemoração ao “Dia Mundial do Banheiro”.

O dia 19 de novembro foi instituído pela ONU, por sugestão do governo de Cingapura, como o “Dia Mundial do Banheiro”, com vistas à conscientização da população mundial sobre a necessidade de que todos tenham acesso ao saneamento.

De acordo com a ONU, uma em cada três pessoas no mundo não tem acesso a um banheiro adequado, ou seja, cerca de 2,5 bilhões de pessoas. Enquanto que no Brasil, são 7,2 milhões de pessoas vivendo essa realidade. E mais de 1 bilhão de pessoas fazem suas necessidades ao ar livre.

A consequência disso, segundo a ONU, é que quase 2 mil crianças morrem todos os dias por diarreia, uma enfermidade que poderia ser prevenida.

Essas constatações podem parecer absurdas para os habitantes dos grandes centros urbanos, mormente pelas novas gerações, que sequer imaginam possível essa realidade.

Com o fito de fazer crer aos mais novos da veracidade dessas informações relato abaixo situações vivenciadas por mim, que vivi boa parte de minha vida sob essa precariedade:

A casa em que eu morava, no bairro de Santa Efigênia – Belo Horizonte – MG, até o final dos anos 60, não era provida de banheiro ou sanitário. Essa era a realidade de pelo menos 90% das moradias. O que havia era fossa, também chamada de privada, casinha ou latrina, localizada no meio do quintal, a certa distância da moradia.

As privadas eram constituídas de um buraco semelhante a uma cisterna, só que mais rasa, para evitar atingir o lençol freático. Sobre esse buraco era montada uma casinha com piso em tábuas com um buraco no centro, sobre o qual se agachava e se resolvia a necessidade fisiológica. Também as paredes eram de tábua, a porta era fechada por meio de tramela de madeira ou por arame prezo a um prego e o telhado com telha amianto, ou, na maioria dos casos, coberto por latas de gordura das de 18 litros , cortadas, abertas e sobrepostas umas às outras, barris de óleo também cortados e abertos, ou folhas de zinco. Evidentemente que quando chovia a cobertura era ineficiente e pingava ou fluía água em abundância no seu interior.

Em uma das “paredes” da privada era afixado um prego, ao qual espetavam-se pedaços pequenos de folhas de jornal e de papel de pão , que faziam as vezes do hoje tão familiar papel-higiênico.

Certa vez eu estava em companhia do meu pai, na casa de um tio meu que era médico, mais conhecido como Dr. Rabelo, ocasião em que eu devia ter entre 5 ou 6 anos. Enquanto conversavam no corredor da casa, eu passei ao lado deles e entrei em um cômodo, fechei a porta e fiquei admirando tanto luxo, sem saber do que se tratava. A certa altura apertei um dispositivo, fazendo jorrar água e fazendo um tremendo barulho. Sem noção do que eu tinha aprontado, fiquei sem coragem de sair e apanhar do meu pai. Como eles não arredaram pé fui forçado a sair assim mesmo e, para meu espanto, os dois continuaram conversando naturalmente. Aí descobri que eu apenas tinha dado descarga, algo tão natural naquela casa.

No início da década de 70 eu estudava no Colégio Tiradentes da Polícia Militar, no bairro de Santa Tereza – Belo Horizonte – MG e já conhecia, mesmo que precariamente, a serventia de cada peça do acervo sanitário. Mas as louças sanitárias eram, para muitos, desconhecidas.

Certa feita o diretor do Colégio Tiradentes, o Coronel Argentino Madeira, tendo reunido toda a escola no auditório, relatou casos de alunos que lavavam a cabeça no vaso sanitário e também de alunos que bebiam daquela água, por entenderem ser essa a função da bacia sanitária.

Se hoje temos tanto requinte e conforto em nossos banheiros, essa não é a realidade de 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 28/01/2015
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