Ordinárias Crônicas Adolescentes - Matheus cap XIII

XIII

O choro passou e nós demos uma voltinha no shopping, jogamos na loja de vídeo games, compramos algumas coisinhas e depois fomos embora porque ela precisava voltar ao trabalho. Disse a ela que eu queria ir ao curso, porque em casa não ia ter nada para fazer, mas na verdade eu só queria ver o Breno, ela aceitou, entramos no carro e fomos direto para lá. No caminho, minha mãe se lembrou do passeio da escola e disse que já havia assinado o termo de compromisso e a autorização na escola e que estava tudo certo para eu ir, além de ter pagado todas as taxas. Fiquei muito feliz ao saber da notícia, porque eu estava muito a fim de ir ao passeio, mas de repente me bateu uma dúvida, porque, depois de todo o escândalo feito hoje na escola, acho que o passeio poderia resultar num comportamento hostil por parte de algumas pessoas, todavia, pensei no que o Cabeça diria, sempre sábio esse moleque, ele diria com toda certeza que o que importa é se divertir com quem você gosta e que se deve ignorar tudo e todos que tentam te colocar para baixo e simplesmente viver sua vida do seu jeito. Ele deveria virar poeta, ele é bom, ou psicólogo como a Tamara.

Chegando ao curso, despedi da minha mãe e desci do carro, subi as escadas e fui até a secretaria. A terceira aula estava em andamento, então, eu não poderia entrar, tinha que esperá-la acabar e só entrar após o intervalo, para a quarta aula. Enquanto eu aguardava sentado na sala de espera em frente ao balcão da secretaria, fui pensando em tudo o que a minha mãe havia me contado sobre esse seu amigo Rogério, fico muito assustado de pensar que existem pessoas tão cruéis e tão cegas a ponto de odiar as pessoas por elas simplesmente serem o que são e aposto que eles nem foram culpados pelo acontecido. Eu não sou perfeito, nunca fui e nem nunca serei, tenho meus preconceitos, tenho vergonha deles, mas infelizmente sou um ser humano e isso faz parte de minha natureza, contudo nunca quis prejudicar e nem ferir ninguém por isso, enfim, é triste e éramos todos nós que tínhamos que mudar isso.

Pensamentos foram e viram e nem me dei conta do tempo ter passado quando a campainha tocou, continuei sentado esperando os meninos saírem, saía uma multidão e nada deles, depois de uns cinco minutos eles apareceram rindo e comendo biscoito recheado. Cumprimentamo-nos e fomos até uma lanchonete que ficava ali perto para sentarmos e conversar. O Breno me perguntou como tinha sido a horrível experiência de hoje mais cedo e contei-lhe em detalhes como eu havia me sentido.

- Nossa, eu teria batido nesse cara – Bufou ele depois de tudo que falei.

- Duvido, você ia querer bater, mas na hora ia pensar na merda que ia acontecer depois e ia só ficar na vontade mesmo – Retrucou o Cabeça.

- É, pensando bem, ele ia sair como o certo da história ainda.

- Ia e o povo da escola ainda ia ficar contra você.

- Que complexo! – Breno riu por fim

- Pois é, essas coisas nunca são fáceis de resolver – adicionei por fim.

O assunto mudou e nem me lembro mais de qual besteira falávamos, só sei que ríamos bastante que Breno chegou até a engasgar com o seu achocolatado de caixinha o que fez com que eu e Cabeça acabássemos por chorar de tanto rir. Passado isso, uns meninos passaram comentando da rodada de jogos de futebol do dia anterior, o que resultou numa conversa entre os dois sobre o esporte que confesso ter antipatia. Os dois conversavam sobre os resultados, passes, gafes e até estratégias técnicas e olha que o Cabeça nem gosta tanto de futebol assim, mas por causa de seu pai, acaba se inteirando do assunto para sempre ter o que conversar com ele. A relação dos dois é de causar inveja em muita gente, eles parecem ser melhores amigos no âmbito pai e filho e o tio Marcos não é daquele tipo que impõe sua vontade para o filho, nem se intromete muito nos seus assuntos, é muito diferente do meu pai, que não deixa de ser um bom pai, mas confesso que às vezes gostaria que ele fosse mais parecido com o Marcos em alguns aspectos, menos no papo sobre futebol. E enquanto meu melhor amigo e meu ... Hã... O Breno conversavam sobre o esporte que une as nações, mesmo com a minha cara de tédio, não conseguia parar de olhar para ele e pensar: Será?

A campainha que anunciava o fim do intervalo tocou e nós subimos para a quarta aula. Olhei meu horário e o arrependimento de não ter ido para a casa invadiu-me veemente, as duas próximas, únicas e (graças a Deus) últimas aulas daquela linda segunda-feira eram de matemática e química, essa com o senhor das Crocs que falava meio enrolado. Bom, o melhor a se fazer era aguentá-las e prestar bastante atenção porque os exames de ingresso para a universidade federal da minha cidade estavam se aproximando e eu tenho que me sair bem.

Terminaram as aulas e tive a ideia de chamar o Breno para darmos um passeio, infelizmente ele disse que não poderia que tinha um trabalho muito importante da escola para terminar e apresentar na quarta-feira e que nesse dia, após o curso, ele daria uma volta comigo. Foi um balde de água fria. Tinha ido à aula praticamente só para vê-lo e ele me fala isso? Tudo bem, não era nada demais, mas fiquei chateado. No caminho de volta para casa Henrique tentou me avisar sobre como é gostar de alguém.

- Matheus, eu sei que ‘cê ficou bem chateado porque o Breno não pôde sair com você, mas cara ‘cê tem que ver que vocês ainda não têm nada, mesmo que mentalmente, ‘cê não pode cobrar nada dele.

- O foda é que eu acho que tô gostando dele de verdade – assumi.

- Eu sei, parece que ele também, mas ele não fala muito disso comigo, afinal, sou seu amigo primeiramente, sempre vou te defender, então se ele não tiver tão afim, não falaria comigo, e, sinceramente, mesmo que ele demonstre que esteja, não se encha de certeza e esperança, porque a gente é muito novo, faz muita merda e depois se arrepende.

- Pior que é... Ai que merda, por que eu fui gostar dele?

- Porque ele te tratou bem quando você mais precisava, vou ser sincero, às vezes isso é ótimo, às vezes te fode. Por isso tô te avisando de uma vez, não quero que você sofra, eu que vou ter que te tirar da fossa e é difícil pra caralho, porra, dá preguiça só de pensar.

- Filho da puta! – Rimos e trocamos de assunto, passou um tempo, chegamos ao ponto em que Henrique descia do ônibus e eu continuei sentado pensando no que ele me dissera.

Gustavo Ribeiro
Enviado por Gustavo Ribeiro em 28/01/2015
Código do texto: T5117456
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