Ordinárias Crônicas Adolescentes - Matheus cap XIV

XIV

Decidi, assim que cheguei em casa, que o melhor a se fazer para não ficar pensando em toda essa questão se gosto ou não era estudar, afinal, eu precisava e muito. Tomei meu banho, fui jantar com a família, que agora já estava feliz e unida novamente, fui para meu quarto, peguei meus cadernos e livros e decidi começar a estudar física. Por meia hora foi até fácil me concentrar nos exercícios, até que meu celular apitou e quando fui checar era uma mensagem do Breno que dizia: “Não aguento mais fazer trabalho, queria tá contigo =/”. Porra, como é que eu vou saber o que ele quer de verdade? Assim fica difícil, pensei no que o Cabeça responderia numa situação dessas e tive uma ótima ideia para a resposta: “Mas o trabalho é importante, tem que fazer né?!”. Nada demais, mas não demonstrava nem pena, nem fofura, nem nada, era até um pouco grossa, mas foi o melhor que pude pensar. Deixei o celular no silencioso total para não ser mais atrapalhado e voltei a estudar, foi difícil recuperar a concentração no começo, mas eu consegui. Quando me dei conta, estava sendo acordado pelo meu pai, eu havia dormido em cima do livro e do caderno e babado nos exercícios que tinha feito, ele me mandou deitar na cama e tentar não dormir ao estudar.

Chegou a quarta-feira, tudo havia corrido normal até o fim das aulas na escola, Cabeça e eu almoçamos e ficamos conversando no jardim que havia na frente da escola, debaixo da sombra de uma árvore como sempre fazíamos. Apressada, ofegante e um pouco suada, subia o pequeno morro da nossa escola a nossa amiga, Melissa, ao chegar perto de nós largou os livros que carregava à mão no chão e se sentou de frente para nós, respirando profundamente com ar cansado. Não entendi o porquê de sua pressa pois ainda faltavam quarenta e cinco minutos para que sua aula começasse, no entanto antes que eu pudesse perguntá-la, Cabeça o fez.

- Qual é a da pressa? – Indagou fazendo uma careta e apontando para seu relógio de pulso – Tá cedo pra caralho.

- Eu sei, mas é que tenho que terminar uma redação que é pra entregar hoje no segundo horário e acordei super tarde, daí preferi vir pra cá e fazer aqui antes da aula, em casa perto do horário de almoço é impossível – respondeu a garota remexendo na mochila.

- Hum, saquei – Respondeu ele – Vou mijar então, ‘cês me esperam aí.

- Minha cara de quem quer sair daqui pra fazer qualquer coisa – disse eu com cara e voz de sono, os dois riram.

Melissa remexeu mais um pouco na mochila, retirou seu estojo, seu caderno, tudo sempre bem cuidado e todos com personagens de desenhos animados ou filmes famosos que mais gostava. Começou a reescrever a redação, depois de uns dois minutos ela mordeu o lápis e pôs-se a pensar e eu continuava meio sentado, meio deitado com preguiça de fazer qualquer coisa. De repente, ela me solta uma pergunta.

- E você e o Breno? – Encarando-me com olhar curioso, ainda mordendo o lápis.

- Sei lá, ué – Respondi sem vontade.

- Hum, você tem que ver se você gosta dele mesmo, sabe, ele é o primeiro que apareceu, às vezes você só achou ele gatinho e gente boa – Dito isso escreveu mais um pouco e eu fiquei pensando no que responder – Cadê o Rique? Ele tá demorando.

- Deve tá cagando – ela fez uma cara de impaciência e voltou a escrever. Passados mais uns dois minutos, ela anunciou que estava chegando.

- Lá vem ele lá, mas enfim, pensa nisso, porque você tá muito jovem pra se amarrar a alguém que você nem conhece direito e sei que é o que tem pensado, você é igual a mim nisso, aproveita, mas não se amarre a ninguém por enquanto, na boa – Fitando-me pela última vez com um olhar sério, ela voltou a sua redação.

- Tá – Foi tudo que consegui responder.

- Vocês já fizeram a inscrição pros exames da universidade? – Perguntou Cabeça ao chegar.

- Já! – Respondemos os dois juntos.

- Eu esqueci, vou fazer hoje – Pra que vocês fizeram?

- Relações internacionais – Respondi – Mas sei lá...

- Medicina, Melissa? – Henrique perguntou rindo.

- Claro que não, idiota! – Ela foi meio rude ao responder – Mas é surpresa, não vou falar também... E você, tem ideia?

- Ainda não faço ideia! – ele respondeu meio chateado consigo mesmo.

A hora chegou para que todos nós fôssemos para a aula, felizmente Melissa havia terminado sua redação e pôde ficar um tempo conversando conosco, mas como ela deveria entrar na escola e nós rumarmos para o curso, tivemos que nos separar. No caminho para o curso, me mantive praticamente todo o tempo calado, não puxava nenhum assunto com o Cabeça, isso porque eu pensava no Melissa me havia dito hoje e também no ele próprio me dissera no começo da semana. Estava muito confuso, mas algo lá no fundo de não sei onde em mim sabia muito bem o que eu deveria fazer, pena que eu o ignorava a maior parte do tempo, o que me deixava ansioso e angustiado, à toa. Chegamos ao curso e sentamos um do lado do outro perto da parede, como sempre, eu ainda estava um pouco calado, a sorte era que ele trocava mensagens com sua mãe que lhe pedia para fazer alguns favores depois que saísse do curso. Logo após que chegamos, Breno chegou e veio nos cumprimentar, sentou-se perto de nós e já foi perguntando por que o Cabeça estava tão concentrado no celular.

- Minha mãe quer que eu faça um monte de coisas, mas ela não sabe mandar mensagem direito, aí fica foda entender – respondeu-lhe com uma cara de impaciência para o celular.

- Mães... A minha também não sabe mexer no celular direito... E por que você tá quieto, Matheus? – Direcionou-se a mim.

- Nada, é que eu tô pensando no quanto eu tô fudido pra estudar tudo o que vai cair nos exames da universidade – menti.

- Aposto que foi a Melissa que colocou isso na cabeça dele, ele tava normal antes da gente ver ela, eu também não devia ter falado da inscrição ainda. – falou Henrique.

- Ih calma cara, você consegue de boa – Breno sorriu e me deu um tapa de leve na parte de trás da cabeça.

Ainda bem que a campainha tocou e a professora de história foi logo entrando e não tivemos que continuar com aquela conversa.

Gustavo Ribeiro
Enviado por Gustavo Ribeiro em 30/01/2015
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