Azul é a cor mais quente

Azul. Essa é a minha cor favorita. Mas mais do que autêntica, quente e exuberante: ela fez parte da minha história. E apesar dos percalços que enfrentei com os pés descalços, eu ainda acredito no amor. Não de uma forma esperançosa e otimista, mas de um jeito desesperado, obcecado.

Você me teve de todas as maneiras imagináveis, desde aquele dia qualquer no semáforo. A minha cabeça só projetava a sua imagem e meus libidos te vangloriavam. Mas eu queria algo concreto, que eu pudesse tocar e sentir. Eis que lá estava você, no bar que eu, aleatoriamente, escolhi entrar. Eu poderia até dizer que você era só mais uma entre tantas, num lugar com rostos confundíveis e desejos comuns, se não fosse pelos seus cabelos azuis. Você podia ter me beijado ali mesmo, arrancado minhas roupas e me desejado insanamente, porque você já tinha o poder sobre mim. Sempre foi mais forte que eu e você sabia disso.

Os dias foram passando e eu fui percebendo que estava indo para um lugar onde eu pertencia. Nada de braços másculos, nada de voltar pra casa após um dia difícil: se tratava de você. Enquanto você fazia de mim uma pintura artística, eu praticava a arte de te amar. Mas chegou um momento em que o amor já não podia mais se impor sobre as nossas diferenças e elas foram ficando cada vez mais difíceis de lidar.

Eu me senti tão sozinha. Não que seja novidade. Éramos somente eu e o meu cigarro, tentando driblar os sentimentos ruins e afasta-los com a fumaça. Não que tenha funcionado. Às vezes, penso o quão estúpida eu fui por ter sido infiel e por não ter te assumido como minha namorada, como deveria. Eu errei. As crianças ainda me davam alegria e força para engolir o choro nos dias nublados. Eu estava realizada ensinando-as a ler e escrever. Uma pena que ninguém poderá ensina-las sobre o amor e como ele machuca.

Mas eu não te culpo. Eu que trilhei o caminho que me levou às esquinas das ruas de uma vida cinza e solitária. Eu que acendi o fósforo e depois reclamei das chamas. Eu que preferi o azul, essa maldita cor que me leva a aceitar que, inconfortavelmente, nunca a esquecerei. E não esquecerei, também, os teus doces lábios. E nem do quanto você insistia para eu escrever. E nem da inquietude do seu olhar. E nem do seu calor, que me queima e faz a cicatriz lembrar que azul é a cor mais quente.

- Texto baseado no filme "Azul é a cor mais quente".