ALGUMAS PENAS FORAM DEIXADAS NO NINHO

O rio que corta a cidade já não é o mesmo das historias que os antigos moradores contam , o rio que em dias de chuva transbordava atrapalhando o transito e alagando o centro em frente ao Bar Do Ponto , apelidado de bar do Galo , provavelmente por causa de algum antigo dono . Agora sua margem fica a uns bons metros das pontes que atravessam a marginal de um lado para o outro e não se vê mais tantos pescadores assim , só alguns corajosos que lançam suas iscas de cima de travessas e esperam pela sorte enquanto as capivaras nadam na água barrenta para aliviar o calor dos dias quentes de verão . As ruas agora pavimentadas e mais ágeis que os antigos paralelepípedos até são acometidas por pequenos transtornos de transito e acidentes , que logo viram noticia na cidade toda . Também é bastante provável que você conheça algum familiar da vitima ou conhecido ou até mesmo você seja vizinho ou familiar , ou seja , algo tipico de cidades pequenas onde um espirro tem a força de um tornado . Durante o dia grupos de trabalhadores permeiam as ruas e vagabundos esmolam centavos para mais uma dose . Velhos aposentados jogam dominó ou dirigem táxis ou fazem os dois se revezando entre a partida e uma corrida . Em toda esquina se vê uma dupla ou um trio jogando conversa fora , falando sobre o tempo , reclamando da falta de chuva , do calor , do preço do combustível e ainda sim se não possui um automóvel se queixa da demora dos únicos dois semáforos da cidade . Para muitos , leva uma eternidade para abrir . Não importa onde você esteja, em que parte do continente ; haverá sempre o grupo dos vagabundos , drogados e derrotados . Numa cidade do interior esses tipos geram assuntos , ganham espaço nas rodinhas formadas nos coretos das praças ou em seus bancos de cimentos onde pombos cagam por tudo ciscando o chão com galinhas sarnentas . Também contam as historias de amor , desilusões , mas isso é tão sujo quanto em qualquer outro cidade maior , independente da inocência de alguns e da sagacidade de outros , o furtivo silenciador das flechas dos anjos fermentam a malicia no coração de qualquer um . Durante a noite nas silenciosas ouve-se o som das tv's ligadas , substitutas dos antigos Motoradios que reuniam famílias para ouvir as novelas cantadas por atores de vozes bem feitas . Durante as noites ,as ruas são redutos de lembranças mortas que renascem a cada trago de bebida e se forma através no espectro da fumaça do cigarro enquanto mariposas fazem festa entorno da luz amarelada do poste . Nos fragmentados vídeos cravados na mente as pessoas que já se foram , partiram e abandonaram o ninho em busca de algo maior ainda caminham e dividem besteiras a luz da lua sentados nas sarjetas as duas da manha de uma sexta feira . E assim como qualquer pessoa , a cidade é um quebra cabeças de pequenas lembranças . Eis o que faz dela um lugar horrível ou adorável de se viver ...

03/02/2015

09h36m

Dica de Livro : ...e não consegue fugir

Knut Hamsun

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 03/02/2015
Código do texto: T5124201
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