O que a gente tem, afinal?

Eu ando por toda a cidade, procurando bares com música ao vivo, vitrines admiráveis, peças interessantes ou obras em exposição. Às vezes, a sorte esbarra em mim e eu encontro pelo menos uma dessas diversões a curto prazo. E, quando isso acontece, geralmente você aparece. Sem motivo ou coincidência que se façam aparentemente explicáveis, você sempre surge em meus caminhos. Esteja você coadjuvando algumas das histórias contadas entre meus amigos e eu ou protagonizando um dia meu qualquer, apenas, por um acaso, termos nos encontrado. E quando marcamos nunca dá certo. Ah, parece até novela. Tudo planejado e roteirizado. Entre uma recordação nossa e outra, me pergunto: O que a gente tem, afinal?

Sei lá, um dia você me retorna, noutro eu finjo que não li sua mensagem, eu te chamo para ir ao teatro, você prefere ir ao show do Rappa, nos encontramos sem querer e ficamos com a justificativa de que estávamos bêbados. Todo mundo sabe, mas nós negamos sempre. Eu já li seus recados, conheci a sua mãe, lhe contei alguns segredos, discutimos sobre a corrupção que envolve a Petrobras, escrevi seu currículo uma vez, fomos até a praia numa noite durante a semana e voltamos uma hora depois sem ninguém perceber. Eu também já deitei na sua cama tantas vezes, e fiquei para o café da manhã mais de cinco, pelo menos. E assim construímos mais história do que muito relacionamento sério por aí, desfilando de aliança e mudando o status do Facebook. Somos muito bons juntos. O problema é que também somos bons separados.

Talvez, seja por isso que nos vemos somente às custas da coincidência, do acaso, do de repente, do inesperado. Vai ver você me faz bem, mas não deixa minhas borboletas estomacais baterem as asas para longe quando te vejo. Às vezes eu ocupo boa parte de seus pensamentos durante o sono ao invés de te deixar com insônia. Eu não preciso de você e nem você de mim. Eu quero você, mas também quero o meu colega de curso, o bombeiro que apagou o incêndio da casa da minha vizinha, o meu médico e o cara que eu vi hoje no ônibus. Assim como eu sei que eu não sou a sua única conversa com segundas intenções no WhatsApp. O que nós temos ou não, pouco importa. Aliás, essa coisa de querer saber o porquê de tudo é tão exaustivo. Vamos só abraçar as oportunidades quando elas vierem e gozar dos resultados sejam eles quais forem.