Procure meu numero por aí

Quis descer. Do avião, da escada, alguma vez do céu. Quis estagnar, parar um pouco, respirar quem sabe. Já quis tanto respirar.. Quis andar devagarinho, sozinha, por favor, me deixa sozinha. Quis fumar ali sentada na chuva mesmo um dia inteiro. Quis puxar a cadeira pra uma garrafa me acompanhar, só a garrafa e eu, nossos encontros já foram bons. Quis pegar um ônibus só pra sentar na janela e passar a viagem toda só fazendo isso. Eu quis. E hoje parei, ando devagar, fumo sozinha e a cadeira da garrafa já tem lugar marcado. Quis esfriar um pouco, era tudo quente demais, queimava demais, quis só um vento na cara: ganhei quase um polo norte no peito. Hipotermia também dói antes de matar. Verdade, quis também me matar, defini que viver poderia ser uma chance pra não perder alguns poucos anos que, pra mim, foram capazes de resistir furacão, tornados, ataques terroristas e também o amor. Por favor, não tornem o amor banal. Não deixem ser facilitado ou tampouco deixem ser desprezados. Não digam que a dor do amor é futil, ou passageira, apenas não digam nada e espere até se surpreender por um tsunami. E então, tente sobreviver. Depois a gente até senta pra tomar uma cerveja e você me conta o quanto se afogou. Não torne a dor tão superficial, por favor, sofra de verdade. Deixa doer e enlouqueça o quanto puder. Não torne lágrimas um erro, algo para evitar sempre, porque um dia realmente se torna uma fraqueza, eu tornei e me afogo por dentro, todos os dias, várias vezes. Por favor, só não deixe o amor ser um qualquer e nem ser vários. Amor é um, depois são consequências. Não digo pra que pare de viver e se apaixonar, mas não viva acreditando que o mesmo tornado arrebenta tudo duas vezes. Uma vez que você cai, passa o resto da vida recompondo e levantando e, jamais, nunca, se arrependa. Se deixe cansar, desgastar, sofrer, e voltar. Renascer, mesmo que com alguns batimentos a menos, vale a pena. Vi a morte, apertamos as mãos algumas vezes, ela é decidida, te leva fácil e de onde você quer ir embora? Do mundo não, tenho certeza que não conhece metade do seu estado. Quer ir embora do seu peito. Não confie. Viva e se precisar de uma garrafa, de fumaça, leva uma bolsa. Não desça do avião, e de qualquer outro lugar. Suba, pouquíssimo importa quem vai te ver lá em cima, mas a sensação de conseguir tornar as coisas diferentes (eu não disse melhores) é... tente, e me liga pra marcar a cerveja.

Carmen Tina
Enviado por Carmen Tina em 05/02/2015
Código do texto: T5127033
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.