Eu escolho solidão

O dia de vocês saírem chegou. Você está ansioso por não saber o que será daquele encontro, nervoso por medo de errar uma palavra e se embaraçar todo e esperançoso que ela te surpreenda. Mas, naquele momento, principalmente, você tem a esperança de que ela não chegue atrasada. Porque você sabe que se ela o fizer, você ficará ali, sentado, entediado, que nem bobo e sozinho. A solidão de minutos te assusta. Então, você tenta chegar uns quinze minutinhos depois do combinado, assim talvez não corra o risco. E se correr, você pega o celular e curte todas as fotos do seu Instagram para fingir estar ocupado e não parecer um bobo, sozinho. Mas ela apareceu e a notícia boa é que você não levou um bolo – ela provavelmente só fez um charminho. E tempos se passam, até que estão namorando quando menos esperam. Brigas, beijos,tapas, ciúmes. Mais algum tempo e ela decide te deixar por algum motivo que pra você não convence. Tudo bem, você gostava dela mas, ah, semana que vem você marca de sair com aquela outra que pega no teu pé e pronto. Tá certo que ela tem uma voz irritante e um papo vazio, mas pelo menos você não ficará sozinho e não será o alvo da roda de amigos no bar na sexta-feira a noite.

É quase inevitável falar em solidão e não pensar no lado afetivo da palavra porque, querendo ou não, é o primeiro que nos vem a cabeça. Pensando nisso há dias e vendo uma matéria sobre a existência de um site no qual você basicamente paga para “namorar virtualmente”, percebi que a solidão é vista de um jeito desagradável, anormal. Pois, pessoas que preferem um status de “em um relacionamento sério” falso do que um simples “solteiro” de verdade por medo de solidão, não podem achar que estar sozinho é bom. Por incrível que pareça, porém, é ótimo e tão natural quanto qualquer outro sentimento – e não somente pela parte afetiva. O isolamento social pode te fazer bem, eu prometo.

Eu entendo quem teme a solidão. Afinal, num mundo transbordando gente interagindo e se relacionando umas com as outras, ficar sozinho é a última opção de uma pessoa que tem uma vida “social”. Só que nem sempre. O vício de querer toda hora uma companhia, nem que seja para ir até a panificadora, pode estar nos afastando da nossa identidade. Por exemplo, quando foi que você decidiu “se dar um tempo” ou “fugir” dessa interação? Passar um tempo com os próprios pensamentos, sem a opinião ou questionamentos alheios? Pois é. Não há nada como o autoconhecimento e ele se faz pelo conjunto do convívio social com o individual. É preciso se sentir solitário para se entender assim como é necessário sofrer para aprender. São processos que a vida exige e quem não passa por eles, fica por despercebido, sem saber nada mais além do que não gosta. Acredite, existem poucas coisas mais destemidas do que se descobrir. É uma delícia. Se permita percorrer essa trajetória, a viajar nessa imensa busca do eu e se apaixonar. A solidão te abre as portas para esse mundo paralelo. E para entrar, é essencial ser audaz.

Para não deixar dúvidas ou certezas de que eu sou louca – e solitária -, tenho dito que poetas hão de concordar comigo. Clarice Lispector sabia da importância da solidão e encontrou nela sua força. Carlos Drummond também sentia certo gosto em pensar sozinho. Entenda que você passa a vida inteira consigo e não pode ignorar o fato de que a solidão pode ser o remédio para suas dores de cabeça. Na verdade, solidão é uma questão de consciência, de saber ver o lado bom e se apoderar dele. E quanto ao lado afetivo, um conselho para escrever e deixar na porta da geladeira: não obedeça a massa que pronuncia a frase “Solteiro sim, sozinho nunca”. Nunca. Isso é a reafirmação para mostrar que não é bom ficar sem alguém, quando, ás vezes, é a melhor sensação – exceto o orgasmo. Outra coisa: jamais, em hipótese alguma, fique com alguém por medo da solidão. Sabe, não é nem fato de enganar o outro, mais que isso, é jogar na lata de lixo o seu direito de escolha.