Descornamento de touro

Numa manhã de janeiro de 2015, saí de carro numa Quinta-feira, final da tarde, rumo ao Sítio São Bento, 30 km depois de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. Moro em Cuiabá, geologicamente localizada numa baixada, quer dizer, uma região onde o ar fica parado e quente e o vento corre livre por cima... O tal sítio dos meus amigos está localizado acima da Chapada dos Guimarães – Parque Nacional, área protegida -, um corte rochoso extenso e lindo incrustado na mata com uma cascata Véu de Noiva, tornando ineludível a mão do artista, numa área de 33 mil hectares.

Fugindo da cidade – seria o relato mais adequado – para descansar no sítio dos amigos durante dois dias. No primeiro dia à tarde surpreendeu-me o convite do anfitrião, meu amigo, odontólogo, João:

- “Vamos descornar um touro?!”

- “Hala!!!” exclamei.

Pensei: “Este meu amigo deixa o ‘stress de uma capital de Estado’ para enfrentar um ‘stress de touro’ em pleno tempo de descanso?!? Hala!!! É muita vontade de relaxar, de descansar! Não foi bem esse ‘descanso’ que eu escolhi para mim... Preferi fazer um momento de espiritualidade com a minha Bíblia diante de uma bela imagem barroca da Imaculada Conceição que eles têm na sala de estar da casa de campo. Entre a paz de Cristo e o stress de touro, fiquei, após uma bela soneca vespertina, com a primeira opção!

Perguntei ao meu amigo João qual seria motivo do procedimento de descornamento do animal... Respondeu-me que esse touro vinha lutando com outros e estragando cercas, coxos e outros utensílios de campo. O encarregado do sítio, um vizinho e um sobrinho de 11 anos foram participar da ‘aventura’ no tronco do sítio, disposição de madeira que deixa o animal quase imóvel. Será que eu estou envelhecendo?! Deixando os verdadeiros divertimentos humanos para trás?! Pensei.

Enquanto eles se divertiam com o chifrudo que logo deixaria de sê-lo, eu abria minha Bíblia, contemplava aquela bela imagem de Maria e meditava sobre o pecado que a pessoa humana não é capaz de tirar de si mesma uma vez cometido. Só Deus pode perdoar pecados! É verdade! Alguns doutores da Lei concordam com isso no evangelho de Marcos, capítulo 2. Logo, Jesus, dentro de uma casa, acrescenta, tendo no seu entorno numerosa multidão e um enfermo numa maca descido do teto por cordas:

- “Para que vocês saibam que o Filho do Homem tem poder na terra para perdoar pecados, eu ordeno a você: ‘Levante-se, pegue a sua cama e vá para casa.’”. Ele levantou-se, pegou-a e saiu caminhando.

Quer dizer, podemos tirar os chifres de um touro... mas para fazer desaparecer os próprios pecados precisamos apelar ao amigo e Senhor Jesus. Grandiosa possibilidade essa de nossa capacidade de fazer amigos! O projeto humano autêntico está fundando na amizade alcançada pela fé! Já, para pacificar um touro, precisamos tirar algo dele... à força!

Hoje, quase duas semanas depois, fico sabendo pela internet da assinatura do processo de paz entre Ucrânia/separatistas russos/Rússia em Minsk com o aval do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, os presidentes russo Vladimir Putin e francês François Hollande e a chanceler alemã Angela Merkel.

Há poucos dias atrás, apareceu na televisão um comboio de carros ucranianos saindo com malas e bagagens de uma cidade da região em conflito. O motorista entrevistado pela repórter, que perguntava o motivo da viagem, respondeu:

- “Nós queremos viver!”

Quem é o touro brabo que está por trás de todo esse conflito: Vladimir Putin ou Barack Obama?! Esta paz vem à força ou parte de dentro, de uma humanidade autêntica?! O importante é que tanto uma como outra garantam um descanso duradouro e uma convivência respeitosa, descontraída e alegre como estávamos nós naquele dia no Sítio São Bento! Que meu amigo João tenha de ir a Washington ou a Moscou só em último caso...