Lembranças.

Lembranças.

Hoje a noite está sem luar, hoje a noite está mais fria do que o de costume. As estrelas estão ocultas no céu, pesadas nuvens pairam sobre nossas cabeças, e a escuridão é predominante, uma fraca brisa vinda do norte sopra sobre meu rosto pálido.

Estou sentado em um banco de madeira em uma enorme praça mineira, que por sinal é muito arborizada. O nome da praça eu não me lembro, queiram me perdoar, mas o que importa é a beleza presente em cada pedacinho dela, nunca vi nada igual nas cidades em que passei, além da admirável botânica da praça, é possível notar a presença de animais, tais como macacos e esquilos. Todos belíssimos, livres, subindo e descendo das árvores a todo o tempo, me encantei com os esquilos com suas mãozinhas pequeninas segurando as nozes.

Também vi em alguns galhos varias corujas, essas é um caso a parte, com aqueles olhos grandes, sempre atentos a todo movimento, são verdadeiras sentinelas da noite.

Os transeuntes aos poucos vão indo em bora, a maioria deles formado por jovens, restaram apenas poucos casais de namorados, e alguns idosos que como eu apenas observam o movimento sentado em algum canto qualquer. Minha débil visão não me permite conhecer quem passa, tenho que espremer os olhos na falha tentativa de distinguir as fisionomias das pessoas que caminham um pouco mais ao longe.

Este velho banco de madeira em que estou sentado já a mais de uma hora, é um amigo de longa data, foi no verão de setenta e nove, me recordo como se fosse o dia presente, como eu poderia esquecer aquele rosto lívido, aqueles olhos verdes, ela estava sentada bem aqui neste banco. Eu me aproximei dela, embora muito tímido como sempre fui, começamos a conversar, as palavras saiam aos poucos, meio enroscadas, mais saiam, além do que eu não me sentia nada apresentável diante de uma dama tão bela, Berenice era o nome dela, passamos boa parte da noite observando o luar, quase sem dizer nada. Mas aquela noite foi maravilhosa, espetacular eu diria, o magnifico e majestoso luar a tudo observava, uma testemunha silenciosa de dois corações apaixonados, desfilando no céu de estrelas toda sua opulência.

Hoje a noite está sem o luar, mas sei que a minha testemunha está lá, escondida por traz de alguma nuvem brincalhona. Aquela moça linda da qual lhes falei foi morar com as estrelas, deixando este velho poeta na companhia desagradável da solidão, por esse motivo venho todas as noites nesta praça, passo horas inteiras desfrutando de doces lembranças, lembrando-se do primeiro beijo, aqui mesmo neste banco, lembrando-se do brilho intenso daqueles olhos verdes, lembrar é viver o passado, eu sempre estarei aqui, neste mesmo banco, nesta mesma praça, perdoe-me Berenice, o que você me pediu não posso fazer, o que você não podia jamais insisti, assim como as folhas se perdem no outono, minha razão perde para emoção, tal como um barco que se perde em meio ao mar. Eu conheci você naquele dia e sinto que não deveria me entreguei a você de uma forma que não deveria, meu coração se rendeu ao verde de seus olhares, e aos teus graciosos sorrisos, tal como a flor ao se entregar ao beija flor.

Minha alma agora sofre com sua partida, o câncer levou você de mim, meu coração preso pelas grades da tristeza, agora chora por saber que o tempo não volta mais, tudo o que passou não retornara. Como diz a canção. “Deveria ter amado mais, ter esperado mais, ter visto o sol se por...” Adeus Berenice, só as lembranças permanecem eternas.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 13/02/2015
Reeditado em 13/02/2015
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