Papo reto

Não me convida pra jantar. E nem pra piquenique, eu não quero. Me convida pra beijar. Pra quê serve se fazer de difícil? Para. Chato isso quando a unica certeza da nossa vida é a morte, e tudo nos leva ao mesmo fim. Então para, e me agarra. Para e tira a roupa. Não me traga flores, mas traga junto comigo. Nem precisa se arrumar, não vem de vestido, de salto alto, vem sem nada, já que a gente vai tirar. Não sorri assim de lado, não. Nem tenta falar difícil, eu vou saber se for atuação. Ignora as leis de primeiro encontro. De segundo, terceiro, quarto. Ignora o que te manda não ir pro quarto assim logo de cara. E vem. Não precisa de charme, mas eu gosto. Sem frescura, sem copo. Vai na garrafa mesmo. Sem cigarro de menta. Vem de camisetão, vem do trampo, vem do tédio. Vem de batom, mas nem vem se for pra ficar retocando. Vem e tira esse batom na minha boca. Não precisa se preocupar, celular ta desligado, sua mãe não vai ligar. Chega de oculos escuro assim, mascando o chiclete, logo olha pra mim e eu já penso "truta, não vai dar pra controlar", ela me abraça, pronto, o dia tá pra começar. Menina, calma, não vou te pedir pra ficar.. Mas se ficar, te empresto um pijama, minha cama, jogo fora a minha fama e te acompanho nessa noite, nessa manhã, nesses dias tão embriagados. De cinza, de preguiça, de nós dois. Eu sei que não cuido nem de mim, das minhas roupas e só ando com tenis rasgado, e sei que é dificil eu ter passagem pro busão, mas se te convir eu amoleço até o coração. Mudo até a direção. Deixo de ir pra biqueira todo dia, e vou aí, já chego segurando a tua mão. Você nem precisou jogar um verde, te vi e já quis guardar tua foto na minha estante. Eu sei que a impressão que eu passo é desagradável e apresentar pros teus pais não vai ser fácil, mas eu visto outra roupa, contanto que meia noite, na hora do pedido eu possa te virar pra falar "aceita um cafofo, comigo?". Eu sei dos teus sonhos, e a gente acampa em qualquer oportunidade pra você realizar.. Mas eu não sou certeza do amanhã. Vivi esses anos todos viajando terreno, viajando mentes e to aqui hoje, engavetando o presente, pra que o futuro te traga assim, sem maquiagem, sorrindo satisfeita porque o que eu pude tá feito, e nem precisou de jantar a luz de velas. E nem de flores, porque morre. Tenho esse trauma, desde cedo vi tudo seguindo a linha da vida, morrendo antes mesmo de apreciar nascendo. Prefiro a realidade, seguindo a vontade, ce quer? Então vamo mesmo. Mas se for da tua vontade, eu faço a reserva, escolhe teu restaurante preferido e eu pago até tua passagem. A janela embaçou por causa da chuva, ta combinando com o embaçado aqui dentro, é sempre foda, sempre cinzento, mas a vida segue assim.. Misturando o cinza com o verde, as vezes uns por cento destilado, e to aqui agora oferecendo uma presença errada, torta, mas confiável, com um pouco de timidez, agora é com você. Decide teu nivel de sensatez enquanto eu bolo isso aqui, compreendo caso decida condição de ter um carro, no lugar de um trem lotadão. Nem sei quanto tempo demora esse sedex pra te entregar, mas é essa fita memo, ontem e hoje, amanhã ce me responde.

Carmen Tina
Enviado por Carmen Tina em 14/02/2015
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