Cidade triste

Hoje a cidade amanheceu triste, numa imensidão cinzenta e incurável de lágrimas. Hoje a cidade chora e eu já não me sinto mais tão sozinha. As poças refletem a minha imagem distorcida, como se soubessem que cada curva que desenha o meu rosto irreconhecível se faz mais verdadeira do que qualquer espelho que me exibe nitidamente. Eu vejo as folhas segurando as gotas em si, deixando os pingos escaparem lamentavelmente e me vejo fazendo o mesmo. Sinto a chuva gelada que me cobre feito cobertor e então me sinto em casa. Nada me conforta mais do que as ruas pelas quais eu ando, divagando, devagar. Ouço a melodia da garoa e o grito da tempestade. Decido que gosto das duas, afinal sou parte delas. Percebo as pessoas correndo para não se molhar da chuva, correndo para não consolar suas lágrimas. Mas eu me desdobro de prazer ao ver um céu cheio de mágoas, nostalgias e medos. E quando a cidade deixa sua água cair por terra, deixo que ela lave meu corpo e minha mente, essa uma tremenda criadora de problemas. Deixo ela levar para os bueiros todos os meus anseios para talvez, assim, eu amanhecer feliz.