Aniversário do tio Ivair

Olá meus caras 23 fiéis leitores e demais 36 que de vez por outra dão uma olhadinho nessa bacaescrivaninha. Eis-me aqui, na Baca-hora, no Baca-local, no Baca-dia, a falar com vocês.

Hoje é aniversário do meu tio Ivair Bacamarte, irmão do meu pai. Os Bacamarte comemoram os aniversários em família da maneira clássica dos habitantes de Charky City: cada um leva o seu, isto é, a carne que vai consumir já temperada (um dos Bacamarte macho é escalado para assumir o assado) e a bebida, enquanto as mulheres da casa do aniversariante produzem as saladas e o arroz. É o aniversário comunitário. Ninguém leva presente. É a tradição, creio eu que nascida nos tempos bicudos por que passou o povo de Charky City em tempos idos.

Só que esse é um aniversário singular em nossa família, pois o tio Ivair está com câncer. Sabe-se lá se não vai ser o último aniversário dele.

Eu gosto muito do tio Ivair, ele é o tio que mais me dava bola. Era o que me dava umas porradas de vez em quando também, mas nunca sem motivo ou sem merecimento, reconheço. Aqui em Charky City é cultural os tios serem meio pais dos sobrinhos, ajudam a manter, ajudam a educar, e dão umas biabas de vez em quando se o fedelho sai da linha e envergonha a família.

Mas o tio Evair me levava para os lugares também. Saía e me convidava pra ir junto, de arrasto. A importância que um tio presente e comprometido tem em uma família eu sou testemunha. Ele nos dão autoconfiança e autoestima, valorizam a gente, nos dão significado.

Lembro de muita coisa do tio. Ele me deu o primeiro emprego, trabalhei em sua firma de construção civil. Como servente de pedreiro, que era para começar por baixo, ser humilde, respeitar o trabalho dos outros, não se criar vagabundo, aprender a ser homem e dar valor para as coisas, principalmente ao custo do dinheiro obtido.

O tio foi a primeira pessoa da família que comprou TV colorida. Lembro de olhar na casa dele, numa madrugada de dezembro, o jogo entre Grêmio e Hamburgo, pelo Mundial Interclubes, onde o time gaúcho venceu e Renato Portaluppi encantou o mundo pela ponta direita, marcando os dois gols do Grêmio.

Lembro do tio jogando bola, era goleiro. Ele me levava para olhar os jogos e eu considerava isso uma honra, um sinal de apreço muito grande pela minha pessoa. Tinha de se comportar e não ficar enchendo o saco, não se meter na conversa dos mais velhos, se comportar. Era muito bom. Grandes momentos de minha infância.

E hoje ele tá de aniversário, talvez já nos acréscimos de sua vida. Sei como é a barra do tipo de câncer que ele tem, ajudei a cuidar de um amigo em 2012 que teve o mesmo problema. Espero, de coração, que o tio não passe pelo que eu vi.

Ano passado perdi uma ti, irmã da mãe, da mesma doença, só que de um tipo diferente. A tia eu não ajudei a cuidar, acompanhei sua convalescença pelo testemunho de umas primas que o fizeram.

Depois da metade dos 40 anos, começamos a ter de lidar com esse tipo de situação, pois as pessoas com as quais convivemos começam a morrer, o que é, depois do nascimento, a outra lógica inexorável dessa vida.

Estou saindo para ir lá, no aniversário do tio Ivair, aquele que, quando guri, era exímio nadador, conforme relatos da família. Seu pai, meu avô, lhe repreendia seguidamente por seu hábito de, quando as embarcações de passageiros de pequeno porte chegavam no rio, mergulhar por baixo delas e sair pelo outro lado, risonho e gavola.

Parabéns tio Ivair, muitas felicidades, muitos anos de vida.

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Em 2015 talvez eu dê um jeito nisso... Mas acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013.)

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 20/02/2015
Reeditado em 20/02/2015
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