50 TONS DE QUÊ?

Na verdade, acredito que se o filme passasse em outra época não faria tanto sucesso, pois o filme, visto superficialmente, é fraco. Mas primeiro, o que desperta em todos é a curiosidade, claro, teve jogada de marketing sim. Muito mais profundo que tudo isso é a realidade vivida por todos, principalmente nós mulheres, de submissão e poder. Seja poder pelo dinheiro, poder pela troca de carinhos e afeto. As mulheres, historicamente comprovado, têm uma ideia de que devem ser submissas. Aprendemos isso, vivemos isso, vimos isso com nossas mães e avós. E aí começa o sucesso do filme, que, na verdade, é o nosso insucesso.

As mulheres vêm lutando por uma igualdade, por uma independência, que parece termos conseguido, mas sabemos que não, temos muito que lutar ainda. Muitas mulheres são inseguras, dependentes, medrosas e precisam de um provedor, de alguém que tome conta, que dê esse tão sonhado amor. Nesse ponto há uma identificação com a virgem, frágil e delicada mocinha do filme.

Colocando de lado o fato de que algumas pessoas são mesmo sadomasoquistas, o que não é saudável, por mais que se diga que cada um faz o que quer, o que vemos nessa história é a crença de que o amor vence a violência, que o amor cura todos os desgostos, que o amor muda as pessoas, e não é isso que acontece de verdade. Mas é isso que esperamos que aconteça certo?

Então fica aquela visão da mulher frágil (sexo fraco) contra o homem dominador (sexo forte). Desde que o mundo é mundo, isso funciona assim. Mas queremos, há muito tempo, lutar contra isso. Queremos a igualdade, mas não queremos perder a proteção, o cavalheirismo, o romantismo. O sexo entra nessa história de maneira forte, mas muito mais forte é o que se passa para o público em termos de poder, de se dar seja como for para obter segurança, proteção, nem que seja por submissão.

Aí está o sucesso. As pessoas começaram a ler o livro e ver o filme por curiosidade. Mas são tocadas e instigadas no seu íntimo, nos seus desejos, incomoda, dói, mesmo que não se dê conta. E um fala para o outro, que também quer assistir, e vai se formando essa corrente de sucesso que nem teria material para tanto se fosse só o sexo. Isso se vê em qualquer filme pornô. Mas o que tem além disso? Será mesmo só um filme sobre sexo? Será só um filme com um ator bonitinho? O que realmente mexe conosco? Pensem nisso...

Claro que o apelo é sexual. Nem sei se quem escreveu teve a dimensão do que fez, talvez não. Mas que vai fazer as mulheres pensarem mais no seu papel de submissão dentro da sociedade, isso vai.

Mariza Schröder
Enviado por Mariza Schröder em 22/02/2015
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