Desde quando filósofo?
Acordava todos os dias com medo de lhe dizer a verdade:
-Mãe, quero me formar em filosofia.
Esperei, aguardei, manhã após manhã, por um simples relance de animosidade em seu rosto. Sempre séria, sua fáscia me dizia que não fazia mal protelar um pouco mais:
-Não tem problema, um dia você me deporá todos os planos, mas esse momento não é agora.
Os dias passavam, o ambiente não mudava, e o humor da mulher de pedra se mantinha inalterado. Ainda num tom de fúria versus depressão, seu semblante me fazia procrastinar severamente.
Na sala de estar, quieta. Na direção do carro, ansiosa. No quarto, cansada. Nenhum instante me parecia oportuno para, enfim, contar-lhe o incontável.
Considerei a possibilidade de o problema estar em mim. Estava. No dia 23 de abril de 1995 minha hora chegou, e pude, então, abrir a boca:
-Mãe, quero me formar em Filosofia!
Eu mal poderia entender, sequer acreditar naquilo que, finalmente, eu estava dizendo. E todos, naquela sala, sorriam e conversavam como se não houvessem percebido o peso das palavras que eu lhes dissera:
- Não é um bebê lindo, amor? Olha,Jairo, ele chora como se tentasse nos dizer alguma coisa!
-Vai ser doutor, Maria! Nosso menino será doutor!