Ordinárias Crônicas Adolescentes - Melissa cap V

V

Chegara o final do dia escolar e eu saía do colégio com as meninas, ainda pensava em toda a situação com o Samuel e o que ele me chamaria para fazer e que dia, rezei para não ser nesse fim de semana, pois havia prometido ao Matheus que sairia com ele, seus primos e o Rique. Foi só pensar neles e meu celular tocou, era o Henrique.

- Oi, amigo.

- E aí Melissa? De boa?

- Tô bem, e você?

- Também, aqui, você pode me encontrar em frente ao curso daqui a pouco?

- Posso, por quê?

- Porque eu tenho que fazer umas paradas pra minha mãe e não tava a fim de ir sozinho.

- Tá bom, te encontro lá, beijo.

- Valeu, beijo.

Despedi-me das meninas e fui caminhando até o curso onde ele estuda, observando a paisagem e as pessoas, totalmente distraída e absorta dos pensamentos que têm me estressado ultimamente. Foi revigorante e a caminhada dura no máximo uns dez minutos, porém antes de chegar ao meu destino final, distraída observando um prédio antigo com bela arquitetura, bati de cara com alguém. A Tamara.

- Que isso, menina? Já tá bêbada a essa hora? – brincou ela.

- Ai, doeu. Não, eu tava distraída... Tudo bem?

- Ah, indo, não aguento mais fazer provas, tô um caco. E você?

- Ah, tô bem...

- Matheus me falou dos primos dele, são gatinhos?

- Ainda não vi, mas diz ele que o amigo do primo sim. Você vai sair com a gente?

- Não sei ainda, por causa dessas provas e trabalhos. Final de semestre é um porre, mas não rola de ficar presa em casa todo o fim de semana, né?!

- Pois é, avisa a gente, vai ser legal. Espero.

- Aviso, deixa eu ir. Tchau, beijo e até mais.

- Beijo.

Ela estava com uma cara horrível de cansaço, parecia mesmo que estava esgotada com o final de período da faculdade, embora eu tenha percebido um quê de tristeza em sua voz, talvez seja viagem minha, mas ela realmente parecia chateada com alguma coisa a mais, pena que não somos tão amigas assim, ela é realmente legal e de um tipo de garota diferente das que estou acostumada a conviver, talvez nos entendêssemos melhor uma com a outra. Quem sabe, não é mesmo?

Continuei meu caminho até a porta do curso do Rique para encontrá-lo, faltavam alguns minutos para que a campainha tocasse e ele fosse liberado, então desapertei o passo e continuei minha observação sobre a cidade. Cheguei na frente do curso dele e passados alguns poucos minutos o avistei caminhando junto com o Matheus, os dois vieram em minha direção e me cumprimentaram.

- Oi Mel – Disse Matheus.

- Oi Matheus, e aí? Vamos sair hoje? – Perguntei.

- Dei a sugestão de irmos àquela pizzaria lá perto de casa, o que você acha? – Respondeu Rique.

- Eu curto – respondi.

- Bom, só falta saber dos meus primos agora... Tenho que ir, minha mãe vem me buscar ali na avenida, só não ofereço carona porque sei que vão sair, tchau pra vocês – Falou Matheus e saiu correndo.

- Tchau. – dissemos eu e Rique.

O Henrique é meu amigo há muito tempo, desde criança, logo eu o conheço muito bem. Ele é muito fechado, não costuma dizer o que sente e, quando diz, não consegue se expressar da maneira tão clara quanto gostaria. Assim que o vi saindo do curso, percebi que a história de fazer qualquer coisa para sua mãe era uma desculpa para poder conversar comigo, ou melhor, para eu tentar extrair dele o que ele ansiava me contar.

- Então, aonde vamos? – Perguntei-lhe.

- Qualquer lugar onde possamos sentar.

- Não íamos fazer uma coisa pra sua mãe?

- Eu menti.

- Que bonito, hein, mocinho.

- É que eu preciso te contar uma coisa.

- Então vamos que eu tô curiosa.

Decidimos nos sentar num banco de uma praça, porque dessa forma teríamos mais privacidade, já que não havia muitas pessoas por perto. Além de as árvores e pássaros passarem a impressão de tranquilidade diante dos barulhos e correrias da cidade. Ficamos calados por alguns segundos depois de nos sentarmos, observando um mico roubando pipoca de uma garotinha de uns quatro anos que estava entretida com os patos no laguinho pequeno que havia ali. Depois do mico desaparecer por entre as árvores, resolvi quebrar o gelo.

- E aí? O que é que você tem pra me contar?

- Eu tô apaixonado – soltou ele.

- Por quem?

- Acho que você sabe muito bem.

- É, eu sei.

- Tá, mas o que eu faço?

- Acho que você deveria dizer a ela.

- Como se fosse simples assim...

- Não, não é, mas se você tem certeza do que sente, você tem que criar coragem e dizer a ela, se for recíproco, bom, se não for, é mais fácil esquecer no início, sério.

- Porra, isso é uma merda. Por que eu não sou igual aos outros caras que saem pegando geral e não se apegam a ninguém?

- Você nem pegou ela.

- Pois é, parece amor platônico. Acho que ter um melhor amigo gay e uma melhor amiga mulher fode comigo.

- Até parece que você se importa com isso.

- Não, mas eu queria ser normal.

- Normal?

- É, normal, sem essas coisas na cabeça.

- Explica direito isso.

- Eu só queria ser um cara que curte pegar todas, ser um galinha, pegar as putas do puteiro igual uns caras da minha sala, a vida seria bem mais fácil.

- E vazia, mas por quê?

- Porque parece que nunca nada dá certo pra mim, só faço escolhas erradas.

- Se você levantasse essa bunda e fosse lá falar com ela, seria tudo diferente, mas você prefere ficar só imaginando. Rique, às vezes você é muito medroso por nada, sabia?

- Sou?

- Demais! Agora vamos, senão não vou ter tempo de me arrumar pra ir à pizzaria.

Tudo bem que nós meninas somos sempre complicadas e tudo, mas por que os garotos são mil vezes piores quando estão apaixonados? Se não agem como o Rique, fazem canalhices por medo de ferir sua imagem de “homem” e coisa do tipo, e depois nós é que necessitamos de um manual para sermos entendidas. Mas, coitado, eu até imagino o que ele esteja passando, não é fácil se apaixonar, muito menos nessa idade quando temos tantas coisas a decidir e pensar e mal sabemos o que queremos da vida direito, entretanto, não justifica a sua atitude idiota, preciso de mais tempo com ele, para acalmá-lo e aí ele vai se dar conta do melhor a se fazer, pelo menos assim espero.

Gustavo Ribeiro
Enviado por Gustavo Ribeiro em 25/02/2015
Código do texto: T5150215
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