Carta gauchesca ao amigo Putin

Caro amigo Vladimir Putin!

Estou aqui na cidade do Alegrete, extremo sul do Brasil, e muito me alegrei ao saber do acordo de paz que assinaste com o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, secundado pela Angela Merkel e François Hollande no dia 12 de fevereiro! Tchê, foram dez meses de guerra numa fronteira de uns 400 km com a Ucrânia com um saldo triste de 5.300 mortos... Que cosa bárbara! Que barbaridade!

Tchê Putin... te chamo de "amigo", apesar de que, certamente, tu nem me conheças... Sou um “bagual” aqui da fronteira com o Uruguai, palavra que para nós é um verdadeiro elogio! O cavalo Crioulo correndo livre nas pradarias do Rio Grande é um modelo de nossos valores mais arraigados! Tchê, nós que temos tempo para parar para ler e para pensar... não podemos meter os pés pelas mãos, sendo violentos, comportando-nos como bestas! Nós queremos a humanização desse planeta!!! E não podemos perder tempo... A vida passa rápido e tu já tens 62 anos! E tua posição é muito mais estratégica e influente para fazer o bem no mundo do que, por exemplo, a minha... Não podemos criar confusão! Imagina... nós podemos até ser amigos!!! E a amizade é uma verdadeira benção de Deus! E jogar benção divina fora é o cúmulo da estupidez!!!

Vamos viver, então, nossas melhores possibilidades! O que achas?!? Tu deves ter estudado mais do que eu... Deves ser até mais inteligente... Sempre te admirei, Chê... Tens fôlego de guepardo! Nunca saíste da crista da onda depois que o Yeltsin te entregou o poder no último dia de 1999... Lembro-me como se fosse ontem... Vocês dois lá na televisão... Durante nove anos foste presidente da Rússia e por mais seis anos primeiro ministro... Tudo fatiado... intercalado... para respeitar a Constituição... És um arquiteto político de primeira grandeza com uma maquiagem democrática invejável! Meus parabéns!!! Talvez um dia sejas considerado um estadista... Só que estadista só entra em guerra quando atacado... Tchê, te cuida! Aqui para nós, desse lado de cá do mundo, tu já estás sendo considerado um líder “não confiável” e “imprevisível”... Lembras do Hitler, que fazia acordos angariando novos aliados e na calada da noite os atacava sem dó nem piedade... É desse líder aí que queres ser uma reedição?!?

Tchê Putin, não te prevalece com a combalida Ucrânia... Olha para o tamanho do teu país... um dos maiores do mundo geograficamente... Precisas de mais território?!? Para quê?!? Agora, olha para ela... Mal consegue manter-se de pé militar e economicamente... O pintainho mal saiu do ovo e já vem a pata do elefante fazendo sombra e passando por cima! Tchê, o que é isso?!?

Tchê! Outra coisa... Deixa de ser mentiroso!!! Já se sabe que nove mil soldados russos de cinco batalhões de infantaria apoiados por tanques e artilharia pesada entraram na Ucrânia para servir de reforço aos rebeldes. Tudo visto por satélite...

E esses tais de rebeldes chamados de “separatistas pró-russos” são pura conversa fiada para boi dormir... Nós, gaúchos, que lemos um pouco as notícias logo nos demos conta que eles são soldados russos enviados por ti para causar toda aquela bagunça na fronteira... É mais do mesmo! E esse armamento pesado, tanques e lança-mísseis à disposição dessa turma... O que é isso?!? Donde eles tiraram dinheiro para comprar toda essa parafernália mortífera?!? Tchê, cria vergonha na cara e confessa logo para a comunidade internacional que tu estás abastecendo esse conflito! Deixa de fazer charminho... Aqui, para nós do Rio Grande, gaúcho que se fresqueia se fazendo de desentendido com lengo-lengo, indefinição, palavra frouxa... nós passamos na torquez de Burdizzo! Ah... Não!!! Conosco não tem disso... Ninguém nos passa na conversa!

E o cessar fogo que vocês assinaram em Minsk em setembro do ano passado?!? Violação sistemática deliberada?!? O que foi aquilo?!? Putin... meu filho, eu sei que tu estás brabo com o Obama porque a diplomacia dele – serviço secreto, se quiseres – virou a Ucrânia para o lado ocidental há um ano... Aqueles grandes protestos em Kiev que derrubaram o então presidente ucraniano pró-Rússia, Viktor Yanukovych... Mais de cem pessoas morreram naquelas manifestações pró-independência da Ucrânia! Eu sei... Foi um trauma para ti... Ficaste chateadinho... Aí, logo em seguida, anexaste a Criméia... Agora... essa novela toda... Queres trazer a Ucrânia de volta para a esfera política, econômica e militar da “nova-URSS”?!? Para com isso!!! Deixa de ser anacrônico... Para de te comportar como menino teimoso carente, chantagendo a mãe para te fazer bilú-bilú! Não te fresqueia! É esse o comportamento adequado à altura de nossos governantes pós-modernos do século XXI?!? Que barbaridade! Que cosa bárbara! Será que eu vou ter que me beliscar para ver se eu não estou dormindo – refém neste sonho tenebroso?!?

Tchê Putin, tenta enxergar um pouco além do teu nariz... E se o Obama e a OTAN baixarem aí na fronteira da Ucrânia com tudo o que nós somos capazes de imaginar de força militar terrestre, aérea e os cambau... como é que tu ficas?!? E os russos?!? Os norte-americanos... estão lá do outro lado do mundo! O anfiteatro de operações será aí diante do teu nariz... Pensa nisso!!! Haverá futuro para este planeta, se esse conflito chegar às alturas da estratosfera?!? Pensa nisso, meu irmão!!! E, ainda por cima, é capaz desse entrevero todo terminar respingando em mim que vivo aqui na minha amada cidade do Alegrete desse lado de cá do mundo... Que barbaridade! Que cosa bárbara!

Tchê Putin, hoje, enquanto escrevo esta carta, já é dia 25 de fevereiro e tudo indica que essa trégua há pouco assinada não está sendo respeitada... O tiroteio não para! E a carga pesada vem desse teu lado aí... E não me vem com essa conversa mole de “separatistas russos”... Eu já te falei: Não te fresqueia!!! Esses dias, a Ângela Merkel foi a Roma encontrar-se com o Papa Francisco... Um dos temas de sua agenda que a preocupa é essa tua mania de transformar tratados em queijo suíço... Tchê, não me obriga a ir até aí e te dar uns tapas e um puxão de orelha! Ah... vou levar a torquês de Burdizzo, por se acaso...

Abraço gaudério!

Ernani José Alfredo Canabarro Cunha