A minha roça deu PT.

Mamoeiro, de imediato se imagina uma grande plantação de mamão. Mas, essa comunidade que fica a uns doze quilômetros da cidade de Pedro II, talvez tenha uns dez pés de mamão plantado em todo o seu território. A comunidade é formada por umas vinte famílias, todas, pessoas de bem e muito trabalhadoras. Nela vivem algumas pessoas que se dedicam ao garimpo, na procura de encontrar uma bela opala para deixar de vez a labuta das roças que é a prática mais costumeira dessa região. É no Mamoeiro que mora o seu Zé. Homem experiente, que tem várias histórias a contar. Já nos seus quase setenta anos, ainda assim, não deixa de cultivar a terra para obter no esforço do seu trabalho, produtos saudáveis e de qualidade. Um dia desses, seu Zé, com o mato já cobrindo o legume. O paluís já quase cantando dentro. Saiu à procura de uns ajudantes para realizar mais rápido o serviço. E saiu, num finalzinho de tarde de um domingo, em toda a comunidade recrutando os trabalhadores.

__ Boa tarde compade Antônio! Vamos me ajudar a limpar um mato amanhã?

__ Amanhã, compade! Dá não, porque eu vou mais a muié lá na cidade. É o dia do Bolsa Família dela. A gente aproveita e faz logo a feira.

__ Tá certo compade. E a sua roça já limpou?

__ Nem plantei esse ano compade!

__ Mas por que, home! Você tá confiando em quê?

__ Tô confiando só em Deus e no benefício da muié.

__ E se essa tal de Bolsa Família acabar, home de Deus!?

__ Aí é ter fé em Deus e esperar outro recurso do governo, porque esse ano tá despachado compade, não vou plantar, não. Mesmo porque num tá chovendo direito. Eu fiquei sabendo que o Joaquim plantou, tá feito um condenado trabalhando e o legume tá morrendo todinho. Sendo assim, vou ficar em casa mesmo. O que nós tamo recebendo tá dando pra sobreviver.

__ Pois é meu compade Antônio você é que sabe! Então me deixe e ali falar com o compadre Raimundo, talvez ele vá me ajudar amanhã. Até, compade!

Já à noite, depois de percorrer quase toda a comunidade no intuito de encontrar alguém que o ajudasse na limpa de sua roça, seu Zé chega à casa de seu compadre Raimundo quase descrente de encontrar companhia para a diária do dia seguinte. E logo é denunciado ao chegar pelos latidos dos cachorros.

__ Boa noite, meu compade!

__ Boa noite, compade Zé! Vamos se abancar, home. Que vento foi esse que lhe trousse até aqui. Como é que tá a comade Maria?

__ A Maria está bem. Graças a Deus!

__ Mas diga lá home o que você deseja?

__ Não compade. É que eu venho lá, desde o começo, tentando encontrar uma pessoa que pudesse me ajudar amanhã na roça. Já andei na casa de todo mundo, mas ninguém se despois.

__ Compade, pois você deu sorte. Amanhã eu estou livre. A muié precisou de mim na sexta para a gente fazer a feira e eu tô sem fazer nada amanhã, vai dá certo.

__ Que bom compade! Já tava preocupado pensando que não ia arrumar ninguém. Pense num negócio difícil é arrumar um trabalhador depois que inventaram esse tal de Bolsa Família. O povo agora só vive disso. As pessoas num tem mais coragem de dá um adjutório pra ninguém.

__ É verdade meu compade! Mas nós vamos fazer o que é mesmo!?

__ Compade nós vamos limpar um mato que eu tenho lá na baixa. E conto com você sedo lá em casa.

__ Num se preocupe não meu compade. Quando for lá pelas seis e meia eu chego lá.

Então seu Zé volta satisfeito para casa por ter encontrado alguém para resolver o problema do mato que sufocava o seu legume. E no dia seguinte.

__ Então, compade Raimundo, é essa a minha rocinha.

__ Tô vendo meu compade Zé. Mas você acha que escapou alguma coisa?

__ É isso que nós vamos ver agora compade!

Depois das primeiras enxadadas, seu Zé já sem nenhuma esperança e desolado fala:

__ Valha-me Deus compade Raimundo a minha roça deu PT!

__ E o que diabo significa isso compade, Zé?

__ Perda Total meu compade.

Pedro Barros.

Barros Nasimento
Enviado por Barros Nasimento em 27/02/2015
Código do texto: T5152266
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