Último cigarro

Eram as cordas do violão. Elas vibravam com a mesma intensidade que os movimentos do meu corpo. Logo, me lembrei de ter dito, um dia antes, para não me deixar levar pela melodia suave porque isso me fazia esquecer os problemas por alguns minutos, mas a dor de cabeça sempre voltava pior. E lá estava eu, dançando, fumando e dançando.

Nada fazia muito sentido naquela noite. As horas ficavam extensas e a bebida não descia mais. O meu estômago, como de costume, rejeitava a comida e, o meu hálito, afastava os presentes. A fumaça que eu exalava era o meu perfume mais doce. Eu gostava do modo como o efeito dele me dominava, a ansiedade sumia e depois vinha a calmaria. Era um hábito, um vício, uma vontade.

No fim daquela noite, porém, percebi a nuvem negra que me acomodava nessa ilusão de maravilhas. As mesmas bitucas que me serviam de relaxantes, dilaceravam a minha vida e me destruíam de dentro para fora. Talvez eu soubesse que, no fundo, eu acabaria como aquelas mesmas cinzas que eu descartava no cinzeiro. Mas, por algum motivo, eu fiz questão de esquecer disso.

Por isso, hoje, eu prometi que não fumaria mais. A partir daí, eu me deixei levar pela melodia suave e dancei, sem me lembrar de ter algum tipo de problema. Nem um, nem dois a mais e que, agora, este será o melhor de muitos, pois será o meu último cigarro.