O que é bom é belo

     O assunto deste artigo veio de uma carta eletrônica que fiz a um amigo ontem. Estão achando estranho o termo “carta eletrônica”? Pois é, mas é isso mesmo! E-mail significa “eletronic mail” e eu não posso enviar um negócio desses, pois sou brasileiro, neto de um lusitano de Coimbra!
      Bom, o caso é que concordo plenamente com esta trova de Eugênio de Freitas, poeta, trovador e repentista maranhense:

           “Eis um conceito singelo
           e duplo, no mesmo tom:
           somente o bom é que é belo,
           somente o belo é que é bom."


      Enquanto isso, neste momento em que a Internet torna o mundo tão pequeno e tão conhecido de todos, uma porção de doidos e idiotas, munidos de um computador, de repente, se "tornaram" poetas e escritores. Sem autocensura e incentivados pela tolerância e cumplicidade dos seus leitores, acreditam que a inspiração - se é que algum dia a tiveram - dispensa perfeitamente a correção e elegância da linguagem, e, o que é pior, a coesão e coerência textuais.
      Em Literatura, eu não discuto inspiração, coisa que vem de dentro de nós e, portanto, o que para nós é uma beleza, para os outros pode ser loucura pura; nem tampouco sou inflexível quanto à correção gramatical, pois conheço muitos bons poetas e repentistas que, por falta de estudos adequados, não sabem a diferença entre um verbo e um pronome. Mas, mesmo assim, fazem belos poemas, pois têm no sangue a verdadeira vocação poética. Os cantadores de toadas do Bumba-Meu-Boi do Maranhão produzem toadas belíssimas que encantam e emocionam quem as ouve! Quisera eu ter o talento que esses repentistas têm, quase todos semianalfabetos...
      O que eu não me conformo, entretanto, é com o desastrado casamento da vaidade com a ignorância, que resulta num texto incoerente, confuso, mas que é postado em Sites Literários, com o nome de poema, trova, soneto, poetrix, conto, etc. O indivíduo escreve uma porção de besteiras em linhas partidas que, por isso mesmo se chamam versos, às vezes rimando sabão com coração, etc., e pronto, eis um novo poeta na praça! Ou então escreve um amontoado de idéias sem sentido ou nebulosas, declarando ser um conto.
      Mas, a exemplo da política brasileira – elegeram  Collor e Maluf (de novo!) – nisso também somos culpados, pois não aprendemos ainda a ser seletivos: a maioria desses textos recebe um número impressionante de leituras! Por outro lado, alguns autores do Recanto de Letras, até mesmo alguns admiráveis autores,  ou por gentileza ou apenas por timidez, aceitam postar alguns desses textos conjuntamente com os seus, a título de interação poética. Isso serve apenas para massagear o ego superinchado desses pseudoautores literários, dificultando-lhes a autocensura e incentivando-lhes a empáfia.
      Vamos mudar isso, vender caro o nosso tempo de leitura e evitar a poluição literária das nossas próprias páginas?
      Confesso que é extremamente agradável para mim ter uma oportunidade de ler e meditar sobre uma boa, inspirada e bem cuidada obra de prosa ou poesia, bem como de reconhecer um autor incondicionalmente comprometido com a qualidade da produção textual.  Ao remeter-me a certos espaços, no Recanto das Letras, para agradecer comentários feitos aos meus textos, às vezes sou surpreendido com essa qualidade, e o que se constituiria retribuição de gentileza literária, se me convertem em bons momentos de prazerosa leitura.
      Para salvar a Língua e a Literatura desse FEBAI ( Festival de Besteiras que Assola a Internet) ainda há autores – e eu me incluo entes estes - que continuam acreditando que fazer Literatura é colocar a sua inspiração e a sua pena a serviço do Belo!


Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 06/06/2007
Reeditado em 09/11/2009
Código do texto: T516016
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