A PRIMEIRA VERGONHA.

A primeira vez que senti vergonha de minha nudez tinha mais ou menos cinco anos. Meu pai conversava com um tal de irmão Joel no portão de casa, em Rondônia, e eu estava em seus braços do jeito que o diabo gosta: peladinho da Silva.

Foi incrível como esse sentimento me surpreendeu pela primeira vez. Comecei a notar que um olho do amigo me observava e o outro dava atenção à conversa. É bom que saiba que eu vivia puxando a pingola. Vai ver que foi isso que lhe tenha chamado a atenção: deve ter ficado com medo de que eu arrancasse a ferramenta com a mão. Pensando bem ele tinha razão.

Essa é a primeira memória que tenho do meu pai ou talvez a única até aquele momento que realmente meu cérebro achasse por bem arquivar pra hoje poder compartilhar com vocês.

Não me lembro de ter tornado a andar pelado depois desse episódio. Pelo menos não mais perto do irmão Joel. A vergonha muda a vida da gente.

Meu pai deve ter me batido umas cinco vezes em toda a vida, inclusive, a última foi recente: foi um "tapa" na cara para ver se eu acordava das cacas. Mas nossa memória tende a gravar com mais precisão aquilo que nos faz passar algum constrangimento.

Tinha aproximadamente dez anos quando xinguei meu pai de "veio tonto" perto dos meus amigos. Por estar de bicicleta resolvi correr para não apanhar. Com quatro pedaladas já senti sua mão me segurar pelas orelhas: foi triste levar uns tapas perto do Sapão e do Nersinho. Não me lembro de tê-lo chamado novamente dessa forma: descobri que além da vergonha o medo também muda a vida da gente.

Meu velho me ensinou inúmeras coisas. Mas, às vezes, esqueço algumas, geralmente as que são mais importantes. Então o tempo passa e me pergunto: por que meu pai não me socou a mão cara para eu não tornar a fazer algumas outras cositas? Mas o "veio tonto" aí está maduro o suficiente para saber que algumas coisas é a própria vida que nos ensina. E o tapa dela dói bem mais.

Hoje o senhor completa 74 anos: um menino. Pelo menos é o que transparece. Um pedido: quando me vir fazendo coisas erradas, por favor, não deixe que a vida me ensine, pode me dar aquelas chineladas.

Sabe de uma coisa: sou seu fã. Você vai estar comigo para sempre, né? Vai sim. Te amo mais que tudo, paizinho.

Feliz aniversário.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 07/03/2015
Código do texto: T5161642
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